Blog Dantas Barreto / Diário de Pernambuco – A governadora Raquel Lyra (PSDB) voltou a repercutir a situação criada, nessa sexta-feira (2), ao tomar conhecimento da conversa reservada do presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB), e que vazou na transmissão ao vivo da TV Alepe. Ele criticou o discurso da chefe do Executivo, no reinício das atividades legislativas. Durante entrevista à Rádio Jornal, Raquel lamentou o fato de ser alvo de atitudes machistas pelo fato de ser uma mulher que está à Frente do Governo de Pernambuco. Mas que está pronta para resistir.
“É importante que a gente consiga ter espaços para falar sobre esse tema. E sempre que a gente sobreviveu a essa política, e diga-se, eu sofro violência política todos os dias de diversas formas, com atitudes, olhares, interpretações, com adjetivo. Sempre têm que estar julgando o nosso trabalho, os nossos discursos, as nossas atitudes e tentar diminuir o papel que a mulher exerce, julgando-a pelo seu gênero, como se fosse um gênero menos capaz, muito menos do que pelas nossas atitudes, pelos nossos resultados”, desabafou a governadora.
Raquel disse que não tinha obrigação de comparecer à cerimônia na Alepe, mas fez questão de ir em respeito à Casa onde já frequentou. “Ontem, foi o reinício dos trabalhos legislativos da Assembleia e há uma previsão de que deve ser encaminhada a mensagem da chefe do Poder Executivo. Fazer um balanço daquilo que foi feito no ano passado e falar um pouco sobre o ano que chega. Decidi ir pessoalmente. Fui deputada estadual por dois mandatos e sei da diferença que faz a presença do líder do Poder Executivo para poder falar com os deputados e deputadas, vereadores e vereadoras”, disse.
Em outro trecho da entrevista, a governadora disse: “Meu sentimento lá era, primeiro, de agradecer, demonstrar nosso respeito à Assembleia Legislativa, aos deputados e deputadas. Começar os trabalhos permitindo que a gente possa continuar com muito diálogo sobre os debates e problemas de Pernambuco, mas, sobretudo, fazendo mais uma vez uma convocação de união para que possa trazer Pernambuco de volta no Nordeste brasileiro como referência no Brasil. Saindo dos indicadores sociais e econômicos, que infelizmente ainda batem na nossa porta”.
Raquel Lyra também defendeu uma maior representação das mulheres na política. “O fato de eu estar aqui hoje, junto com Priscila Krause, vice-governadora, pela primeira vez na história com duas mulheres governando o Estado, já é por si só um ato de resistência. A gente sempre fala sobre violência política, e quando ela acontece, muitas vezes, em geral se tenta colocar panos mornos ao que acontece. Isso já não é mais aceitável. Estamos no século 21. Nós temos hoje ainda só duas governadoras no Brasil. A gente tem uma subrepresentação feminina no Congresso Nacional, no Senado. Nós temos representação feminina muito menor que outros países que têm democracia muito menos solidificada do que a nossa”, salientou.
A tucana continuou a sua em defesa à igualdade entre os gêneros, por entender que em primeiro lugar está a pessoa e a sua representatividade. “Sonho com um País em que a gente não faça essa diferenciação, ‘ah aqui é a governadora mulher Raquel’. Não, ‘aqui é a governadora de Pernambuco que está falando e precisa ser respeitada pelo cargo que ocupa e pelo ser humano que é’. Estou representando um poder. Sou servidora pública por vocação, já estive na Assembleia Legislativa por dois mandatos, fui a primeira presidente da Comissão de Legislação e Justiça, disputei a Prefeitura de Caruaru, fui a primeira prefeita de Caruaru e tive, para o olhar de muitos, a ousadia, para não dizer outro adjetivo, de me colocar à disposição de Pernambuco para disputar a eleição”, assinalou.
A governadora voltou a falar na luta diária de resistir ao preconceito,“pelas características que as mulheres imprimem quando exercem espaço de poder, com transparência, da conciliação, da probidade, buscar imprimir a mudança que Pernambuco que a gente deseja todos os dias”. “Agora, para isso, a gente enfrenta também atitudes machistas. Eu estou aqui num ato de resistência, falando sobre esse tema, mas quero dizer que estou olhando para a frente para cumprir meus compromissos com o povo de Pernambuco. Há milhares e milhões de mulheres no anonimato que todos os dias sofrem esse tipo de violência. É por elas que nós estamos aqui”, ressaltou Raquel Lyra.