Por Ruth de Aquino
O Globo
Afinal, quem era essa vereadora favelada, essa mãe bissexual, essa defensora de direitos humanos, essa negra que condenava grupos policiais de extermínio de jovens? Quem Marielle pensava que era?
Por mais combativo que fosse seu discurso, por mais cativante que fosse seu sorriso, por mais que tivesse a legitimidade de 46 mil votos, ela não poderia prever essa comoção nacional se fosse morta. Ela não suspeitava de nada, nem de uma emboscada nem da apropriação de seu nome como bandeira. No Rio, no Brasil, no mundo.
Por que sua morte prematura, aos 38 anos, com tiros na noite à queima-roupa, disparados por covardes, encomendados por mais covardes ainda, faria chorar uma cidade já embrutecida pela violência que dizima mais de seis mil vidas por ano? Faz sentido? Esse choro todo por causa de Marielle, que nasceu na Maré. Esse nó na garganta. Essa indignação toda. Os aplausos para um caixão de #MariellePresente. Esses punhos erguidos, de mais resistência que raiva.
Quem era mesmo essa Marielle? De repente, mártir? Por que a dor por sua perda é mais intolerável? Ah sim. Por ser um crime político. Não só. A juíza Patricia Acioli foi morta na porta de casa com 21 tiros, em Niterói, também alvo de uma emboscada. Em 2011. Investigava milícias de São Gonçalo. Foi um crime político. Mas não levou multidões às ruas como a vereadora Marielle.
Continua…