Márcio França é ex-governador de São Paulo, foi vice de Alckmin. Donizete é ex-prefeito de Campinas, segundo maior colégio eleitoral paulista.
Carvalho busca explicar a estratégia de Alckmin. “A única coisa certa é que ele será o candidato a vice-presidente, mas ele não quer entrar numa fria. Não quer ir para um partido que cause problema para isso”, explica Carvalho, ressaltando que o bom relacionamento entre candidato a presidente e vice na chapa petista acalmou os ânimos. “Ali deu casamento. Os dois defendem a democracia. Alckmin, embora tenha feito oposição ao PT desde sempre, também defende a democracia e pode, sim, ajudar a unificar o campo democrático”, argumenta Carvalho.
O ex-ministro também prevê uma disputa dura. “Será uma campanha difícil, mas vamos jogar pesado com nossos candidatos, a militância e tudo o que temos. Em condições normais, o Lula ganha, mas o risco são os golpes”, afirma.
Carvalho ressalta o papel da Justiça Eleitoral nesse contexto. “Com certeza, muito dependerá deles, quanto ao acompanhamento e fiscalização do processo eleitoral.”
PSol é dúvida
Alguns parlamentares petistas ainda têm expectativa de que Guilherme Boulos (PSol) retire a sua candidatura ao governo de São Paulo e apoie a campanha de Haddad. Em troca, o PT oferece apoio a Boulos nas eleições de 2024, em uma eventual candidatura à prefeitura paulistana.
Em entrevista ao Correio durante o Ato pela Terra contra o Pacote da Destruição, em Brasília, Boulos disse que já se decidiu. “Lula é o candidato que tem as melhores condições de derrotar Bolsonaro. E eu apoio Lula”.
Mas o PSol não é apenas Boulos. Para o cientista político Ismael Almeida, a estrutura partidária do PT pode ser um trunfo nas negociações de apoio a candidatura de Lula. “O que atrai uma possível aliança é a estrutura partidária do PT, um dos maiores partidos do Brasil. Então eles têm uma estrutura grande, com muito recurso de fundo partidário e também terá fundo eleitoral, tempo de TV”, observou.
Por outro lado, Almeida analisa que existe uma centralização do poder na figura do Lula dentro do PT, o que pode ser um fator a dificultar as negociações. “Isso é consequência da forma de fazer política que o Lula fez durante todos esses anos, impedindo que outras lideranças da esquerda, até mesmo dentro do do próprio PT, tivessem um lugar ao sol, né? É um problema que o PT cultivou por anos.”
Na avaliação de Ismael Almeida, o tempo extenso das negociações reflete uma perda de hegemonia do PT dentro da esquerda, o que deve ser explorado por adversários de Lula.
“Essa desunião atrapalha muito o Lula e por consequência favorece seus concorrentes. Para o cenário político, passa a mensagem de que o Lula não é mais unanimidade dentro da esquerda. Antes ele falava e a água parava. Agora já não é mais assim”, observa Almeida.
Diante desse cenário, o especialista avalia que a concessão de candidaturas regionais pode ajudar nas negociações: “Há regiões e estados importantes que o PT insiste em apresentar candidatos, de modo a manter o poder junto com outras siglas. Então isso provoca resistência delas em fechar a aliança presidencial”, finaliza.