Por: Victor Correia – Correio Braziliense – A dois dias do começo da janela das convenções partidárias, que ocorrem entre 20 de julho e 5 de agosto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tem arestas para aparar com o principal aliado para 2022: o PSB. As duas legendas vêm digladiando por todo o país para definir candidaturas a governos estaduais e ao Congresso. Coordenado pelo ex-presidente, o esforço do PT para desatar os nós vem dando frutos e garantiu o palanque nos dois maiores colégios eleitorais. Restam, porém, pendências e ajustes.
Na sexta-feira, um dos problemas foi resolvido: o do Espírito Santo. Em nota, o PT anunciou apoio à reeleição do atual governador, Renato Casagrande (PSB). Cai, portanto, a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato (PT) ao governo capixaba.
“Casagrande é um democrata e tem uma conexão histórica com o PT. O apoio ao presidente Lula mostra que, cada vez mais pessoas, estão escolhendo o amor em vez do ódio. Sim, existem diferenças em nossas visões, mas nada tão importante quanto trazer de volta a alegria das pessoas, manter o Espírito Santo em um caminho progressista e evitar a reeleição de Bolsonaro”, diz a nota, assinada pela presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, e pela presidente estadual, Jackeline Rocha.
Em contrapartida ao apoio petista, Casagrande dará palanque a Lula. A ideia não era bem-vista pelo governador, que resistiu a se aliar ao ex-presidente até esta semana. O acordo envolve também o PP, que exigiu ao pessebista não dar espaço ao PT na chapa em troca de apoio.
Após as negociações, o diretório capixaba do PT cedeu e aceitou apoiar Casagrande mesmo sem ter lugar na chapa, para garantir apoio a Lula. Nos bastidores, corre que a decisão ocorreu como contrapartida à retirada da candidatura de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo, em 8 de julho, para abrir espaço a Fernando Haddad (PT).
O próximo alvo de Lula é Pernambuco. O ex-presidente estará no estado na quarta e quinta, encerrando a visita com ato público no Recife para lançar a candidatura de Danilo Cabral (PSB) ao governo pernambucano. No estado, a tensão entre PT e PSB vem de um excesso de apoio a Lula.
Apesar de o presidenciável já ter declarado, em mais de uma ocasião, que Cabral é seu candidato ao governo, ele também não faz esforço para se distanciar da ex-petista Marília Arraes (Solidariedade). Ela declara abertamente seu apoio a Lula e utiliza sua imagem nos materiais de campanha — e Lula não se opõe a isso, muito pelo contrário. Durante a visita a Brasília, na última quarta-feira, Lula e Alckmin tiraram uma foto ao lado de Marília, que voltou a elogiá-los.
A postura irrita o diretório pernambucano no PSB, especialmente porque Marília lidera as pesquisas. A expectativa dos socialistas é que a passagem de Lula ajude a alavancar Cabral, o que pacificaria um pouco os ânimos.
Troca de farpas
No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral, há pouca perspectiva de acordo. A disputa ocorre pela vaga ao Senado entre o deputado federal Alessandro Molon (PSB) e o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, André Ceciliano (PT). Nem mesmo a passagem de Lula pelo estado pôde resolver a disputa. Tanto Molon quanto Ceciliano discursaram no palco com o ex-presidente, trocando farpas.
Fontes dos partidos dizem que ninguém vai ceder. Enquanto o diretório carioca do PT acusa Molon de descumprir acordo feito no começo do ano, segundo o qual ele renunciaria à vaga ao Senado em prol do petista, o pessebista insiste que não fez nenhuma negociação do tipo. O cenário mais provável é que as duas candidaturas sejam levadas adiante em paralelo. O apoio de Lula, porém, vai para Ceciliano.
No Rio Grande do Sul, há outro nó complicado. O petista Edegar Pretto e o socialista Beto Albuquerque disputam a vaga ao governo estadual. O PSB gaúcho, por um lado, avalia que a desistência do petista deve ocorrer como parte da contrapartida à saída de França da disputa paulista. O PT, por sua vez, considera que os dois partidos estão quites após a saída de Contarato.
Outra questão é que Albuquerque é declaradamente mais próximo do ex-governador do Ceará Ciro Gomes do que de Lula, e negocia apoio com o PDT. Na avaliação dos gaúchos, a situação só tem chance de ser resolvida com uma intervenção mais firme dos diretórios nacionais.