Proibida até a categoria sub-12, cabeçada no futebol gera debate

Por William Tavares/Folha de PernambucoFundamento muito utilizado no futebol, a cabeçada está proibida em torneios de base até a categoria sub-12. Em comunicado enviado às Federações Internacionais, a Ifab (International Football Association Board), entidade responsável pelo estabelecimento das regras vigentes do futebol, explicou que a medida foi tomada por conta de recomendações médicas, citando estudos que apontam o risco, a longo prazo, de problemas neurológicos ou lesões cerebrais. Decisão que mexe nos trabalhos de base dos clubes.
Segundo a Ifab, o cabeceio na bola, caso ocorra, terá que ser assinalado como uma infração, com o árbitro parando o lance e dando tiro livre indireto. Se o gesto acontecer de forma repetitiva por parte de um mesmo jogador ou se uma cabeçada evitar uma chance clara de gol, o atleta pode ser advertido com cartão amarelo ou vermelho. Se a bola bater acidentalmente na cabeça, sem que haja alguma das situações citadas acima, não será dada advertência, com a jogada prosseguindo.
Outros cuidados
A entidade também ressalta que a maior preocupação está não somente no choque da cabeça com a bola, mas entre as cabeças de dois ou mais atletas, além de algum acidente com a trave ou em queda após o salto. “O corpo, o cérebro e as habilidades motoras ainda estão em desenvolvimento e talvez não tenham a força física nem a experiência necessária para minimizar possíveis riscos”, citou a Ifab, em nota.
Técnicos analisam
A Folha de Pernambuco ouviu profissionais que trabalham nas categorias de base do Trio de Ferro da Capital. Técnicos e diretores apontaram vantagens, mas também perdas com a decisão. “Foi uma alteração que nos pegou de surpresa, mas que sabemos que é importante por conta da prevenção de futuros danos neurológicos. O Sport é um clube que, em sua formação, anda alinhado com a ciência. Vamos seguir todas as recomendações. Um ponto importante no futebol é a tomada de decisão e uma lesão neurológica pode prejudicar o atleta nessa questão. Sabemos que os meninos costumam cabecear bolas desde pequeno, então precisaremos de tempo para educá-los quanto à mudança”, citou o diretor da base leonina, Felipe China.
Anderson Barbosa, técnico do sub-15 do Santa Cruz, por outro lado, alerta para um detalhe. “Essa nova regra vai impactar nos garotos que chegarão ao sub-15 e categorias superiores, tendo que reaprender situações de jogo. Com certeza, o risco técnico será notório, já que o cabeceio tem uma ligação direta na partida”, apontou.
Também técnico do sub-15, mas do Náutico, Jeronson França aponta que a mudança vai interferir, principalmente, em jogadas de bola parada. “Nesse tipo de lance, que resulta em cabeceio, o jogo fica um pouco mais pobre. Existirá um prejuízo técnico. Mas como a decisão foi baseada em um estudo, acredito que é preciso ter atenção. Principalmente na faixa etária de 11, 12 anos, em que as crianças desenvolvem a capacidade neural. De fato, a proibição tem um caráter médico. Talvez até pensem no futuro em criar alguma proteção, como aquele capacete que o ex-goleiro Petr Cech usava, ou uma bola mais leve para atletas dessas categorias”, alertou.
Desde 2015, a medida é aplicada também em torneios infantis nos Estados Unidos e já foi adotada de forma experimental em campeonatos de base da Inglaterra e Argentina.