Na era da internet, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018 fez os mais de cinco milhões de candidatos refletirem sobre até que ponto os internautas são ou podem ser manipulados pelas redes e a apontarem soluções para evitar o problema. Essa alternativa é a “intervenção” que os estudantes foram levados a apontar na redação.
A relevância do tema da redação — ‘Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet’ — foi citada pelo presidente Michel Temer. “Atualíssimo”, disse ele. Professores de Português também deram destaque ao assunto.
Carol Achutti, professora de Redação do curso Descomplica, considerou o debate de utilidade pública. “É um tema muito atual e acho um serviço público levar esse tipo de discussão para a sala de aula. Estamos falando de segurança na internet, de como os dados dos usuários podem traçar um perfil do consumidor, de um certo grupo. E isso pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal”, explicou.
Achutti acrescentou que a avaliação dependerá ainda do recorte que a banca dará. “Pode ser um recorte mais político e concreto ou mais teórico e filosófico. Neste último caso, por exemplo, discorrendo que a internet oferece muitas opções, mas de alguma forma a gente esta sendo manipulado. Mas o aluno tem que entender que não é um recorte só do Brasil, e sim global, universal”, disse.
A professora afirmou ainda que terá mais chances de conseguir uma boa pontuação na redação os candidatos que não forem “radicais” na sugestão de intervenção.
“Comportamento de manada”
Romulo Bolivar, professor de Português e Redação do curso online Pró-Enem, enfatizou que é preciso dar exemplos sobre o uso de dados dos usuários das redes. “É preciso trazer exemplos do cotidiano para mostrar esse comportamento de manada. É a manipulação do consumo, a gente não tem mais noção do que é bom ou ruim”, disse.
“Quando você entra para buscar uma coisa na internet e são poucas as opções relevantes que aparecem para você, ou ou quando você pensa que está todo mundo comprando aquele produto, mas, na verdade, usaram seus dados por já conhecerem seu perfil”, exemplificou.
Bolivar disse ainda que o tema “nos induz a refletir sobre o comportamento de manada motivado pelos algoritmos”: “No sentido de que a gente pensa que escolhe diante das opções que nos são apresentadas. Só que já houve uma pré-seleção de acordo com interesses de publicidade ou econômicos”.
Segundo o educador, o tema é novo, mas não chega a ser uma surpresa, pois a banca do Enem “costuma revisitar eixos sociais que já foram cobrados”, entre eles, comunicação social.
“E o tema não é relacionado a ‘Fake news’, é relacionado à questão do direito de escolha que tem sido desrespeitado a partir da manipulação da internet, e o direito à liberdade de escolha e de acesso à informação, que são previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e na Constituição Federal, de 1988”, declarou.
“Aluno preparado não foi pego de surpresa”
Professora de Linguagens e Códigos e de Redação do Coc-Atibaia, Juliana Oliveira frisou que, por fazer parte do cotidiano dos alunos, o tema não foi uma surpresa.
“A grande questão é como o Enem quer que o aluno desenvolva a proposta de intervenção”, ponderou. “Porque é um tema amplo que pode ser tratado pela questão de sigilo de dados pela internet. Também pode-se falar do controle de marketing: como as empresa tem acesso a esses dados? A questão da ingenuidade digital, o quão preparadas as pessoas estão com esse mundo digital, e o qual ingênuos somos diante dessa ferramenta”, complementou.
Oliveira acredita que o tema vai girar em torno do usuário, de como ele deve se portar diante disso. “Talvez o estudante seja levado a pensar sobre a questão do sigilo na internet”, comentou. (Paloma Savedra/O Dia)