Professora pernambucana faz relato dramático da prisão em Brasília

Por Magno Martins /Folha de PernambucoAntes de embarcar, ontem, para o Recife, depois de 60 dias presa no presídio da Colméia, em Brasília, a professora pernambucana Adilma Maria Cardoso relatou à Folha que viveu dias de horror na prisão. “Só não me torturaram, mas quase chegaram a isso, porque sofri tortura psicológica, tão grave quanto à física”. Adilma foi presa pela Polícia Federal, acusada de integrar uma associação criminosa e de atentado à ordem democrática pelos atos de 8 de janeiro.
Adilma, entretanto, não participou da manifestação nem tampouco invadiu o Congresso, o Supremo ou o Palácio do Planalto. Como integrante do QG Bolsonarista em Brasília, atuou apenas como cozinheira, segundo depoimento à PF. “Meu único pecado foi cozinhar no acampamento”, disse, afirmando em seguida ter sido vítima de uma prisão extremamente arbitrária. 
Ela regressou a Pernambuco, ontem, num voo ao final da tarde, na companhia do deputado Coronel Meira (PL). Meira, aliás, teve papel fundamental na soltura dela e de mais de uma dezena de homens e mulheres que estavam na Colméia e também no presídio da Papuda, em Brasília. 
Na conversa com a Folha, Adilma relatou que a comida servida aos presos era de péssima qualidade, assim como as acomodações, segundo ela, impróprias e desumanas. “Vivi tratada como se fosse um bicho. Foi uma prisão injusta. Não fui à manifestação, não peguei em arma, meu único pecado foi cozinhar”, desabafou.
“Estou embarcando muito alegre, pois lutamos muito para que a justiça fosse feita”, acrescentou. Advogada da professora, Jeanne Franco disse que Adilma sempre foi contrária a ações que representem violação ao Estado de Direito e à Democracia. “Além disso, em seu processo não constam qualquer indício, como fotografias ou filmagens de sua participação nos atos do dia 08 de janeiro. Desta forma, não teria por que mantê-la presa e em estado de abandono”, afirmou.
Já a advogada Geusa Santana, que atendeu Adilma e outros patriotas, em Brasília, relatou horrores. “Nosso trabalho, além de jurídico, foi humanitário. Tentamos levar um pouco de alento e tranquilidade para as pessoas. Têm sido semanas difíceis e de muita dor.
Mulheres diabéticas, com problemas de pressão e com endometriose ficaram sem seus remédios no presídio. Pessoas que não tiveram culpa alguma, estão lá, presas e passando por diversos problemas e constrangimentos. Tudo isso deveria ter sido evitado”, lamentou.
“Ouvi e vi muitas histórias, como a de uma senhorinha, sempre com o terço na mão, e presa. Adilma, assim como outras, estavam no QG apenas para ajudar na cozinha, sentimento materno de alimentar a todos. Várias idosas, muitas mães e pais de família que foram ajudar espiritualmente, com suas orações, estavam lá pacificamente reunidos. Não há por que condenar essas pessoas que nada fizeram. Por tudo que passaram, é muito desumano”, completou.
Para o deputado Coronel Meira, Adilma é uma mulher que acredita nas instituições e no Brasil. “Sem dúvida, vai ficar um dano muito grande para ela e essas pessoas de bem que estiveram em uma penitenciária. Por isso, diversos amigos, familiares e patriotas pernambucanos se uniram para ajudá-la. Médicos das várias áreas, psicólogos, nutricionistas dentre outros, se organizaram para realizar uma bateria de exames e acompanhá-la nesta recuperação. Isso só mostra o quanto ela é querida e que sua prisão foi um grande erro”, desabafou Meira.