Cristovam Buarque / O Globo
Os políticos se dividem entre os que fazem contas e os que fazem de conta. O futuro está com os primeiros. Mas se querem ser democratas, precisam convencer o povo a acreditar na aritmética e na exatidão de seus números. Poucos fatos demonstram melhor o fracasso da classe política brasileira do que a dificuldade em levar adiante a reforma da Previdência com apoio da sociedade. Não fazer a reforma é irresponsabilidade fiscal comprometendo o futuro; fazer a reforma sem a compreensão da população é a falência política comprometendo a democracia. Estes fracassos têm origem na atual falta de legitimidade dos políticos, seja pelos privilégios que mantemos, pelo isolamento em relação aos sentimentos da população, pela corrupção, por sucessivos estelionatos eleitorais, sobretudo pela perda na capacidade de refletir com lógica e construir entendimento.
IDEIAS E SONHOS – Desapareceu a política de combinar ideias e sonhos com as equações dos recursos disponíveis. Alguns grupos se unem na defesa de ilusões sem respeito aos limites fiscais; outros optam pela frieza das equações sem respeito à opinião da população.
Desapareceu o diálogo entre os grupos: o sectarismo político e a voracidade das corporações não deixam a política formular alternativas que permitam construir o futuro justo e sustentável com o apoio do povo.
Continua…