Para os cientistas políticos estrangeiros, denominados “brazilianistas”, está cada vez mais difícil entender a política brasileira. Nos países tidos como civilizados (se é que já exista realmente algum…), jamais se viu uma situação como a do presidente Michel Temer. Pela primeira vez, um político chega ao poder por via de impeachment e um ano depois já se vê ameaçado de também sofrer cassação. As denúncias e provas já colhidas contra ele são muito mais graves do que as acusações feitas à sua antecessora, a presidente Dilma Rousseff, cujo envolvimento direto em corrupção somente agora vem sendo provado, mas apenas em caixa 2 eleitoral, reconheça-se. Os analistas estrangeiros enlouquecem, porque o mais incrível nesta trama é que Temer ainda tem condições de seguir em frente e terminar o mandato-tampão, que vai até 31 de dezembro de 2018.
Continua…
MASCATE DO JBS – Como se não estivesse acontecendo nada, o presidente ameaçado está passeando no exterior, a pretexto de aumentar as exportações do grupo empresarial pertencente a seu maior acusador, o empresário Joesley Batista, um comportamento que nem mesmo Freud conseguiria explicar esta situação, pois parece uma nova versão da Síndrome de Estocolmo. Nessa estranha missão de mascate do grupo JBS, Temer age com desenvoltura, é como se tivesse voltado aos bons tempos em que se reunia com Joesley Batista nos subsolos da vida. Em Moscou, na terça-feira o presidente se disse tranquilo e alegou que as acusações são fruto de revide político, por ele ter colocado o país “nos trilhos”, ao liderar “a mais ampla agenda de reformas das últimas décadas”.
MEIRELLES EM AÇÃO – O fato concreto é que Temer abandonou o governo e se limita a se preservar no suposto poder, deixa a gestão por conta do ex-banqueiro Henrique Meirelles, um fiel representante do Sistema/Mercado que desde sempre comanda o país. Com essa tácita delegação de poderes, o ministro da Fazenda não cabe em si de contentamento e já está em plena campanha para a sucessão de 2018. Este mês, ele abriu uma conta no Twitter para aumentar a visibilidade. No sábado, dia 17, viajou a Belém exclusivamente para participar da festa de aniversário da Assembleia de Deus no Pará, conforme noticiou Guilherme Amado na coluna de Lauro Jardim, em O Globo.
Nesta terça-feira, mais campanha: Meirelles recebeu no gabinete um grupo de deputados da frente sucroalcooleira, que lhe pediram o aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). “Quem tem problema grave com a Cide é o Banco Central. E agora o Banco Central precisa baixar os juros”, respondeu o ministro, alfinetando o BC, como se não fosse subordinado a ele.
TEMER PROTEGIDO – Se depender do Sistema/Mercado, Temer não sai do Planalto e ficará lá, para encabeçar o serviço sujo das reformas, sem afetar expressivamente a imagem de Meirelles, que fica em segundo plano. O ministro é filiado ao PSD e tem munição para comprar apoio de muitas legendas nanicas e ganhar mais espaço no horário gratuito da TV. Embora a legislação eleitoral tenha sido reformada e as empresas não possam mais patrocinar candidaturas, Meirelles vai ter colossais fundos de campanha, a serem administrados por exímios especialistas que não deixarão rabo de palha, como costuma dizer o senador José Agripino Maia, presidente do DEM.
Se a economia melhorar até o final de abril do ano que vem, quando o ministro da Fazenda terá de se desincompatibilizar, suas chances eleitorais serão ainda maiores. Os outros candidatos estão preocupados com Lula, mas o adversário a ser batido se chama Henrique Meirelles.