Se alguém tivesse dúvida quanto ao destino da candidatura Eduardo Campos nas urnas de outubro, essa dúvida se dissiparia com a leitura da reportagem de Sérgio Roxo, O Globo de 26 de maio, na qual foram expostas divergências essenciais entre o ex-governador de Pernambuco e Marina Silva, candidata à vice em sua chapa.
Estão ocorrendo em diversos Estados, a começar por São Paulo, maior colégio de votos do país. Há uma tendência de o PSB (de Campos) apoiar a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmim, mas a ex-senadora pelo Acre vetou a aliança e indicou o ambientalista João Paulo Capobianco, ou então o coordenador da sigla de Marina em SP, Céçio Turino.
Sérgio Roxo, além dessa, levantou outras divergências que estão impossibilitando a formação de alianças regionais. A dificuldade de acerto, mais uma vez, tornou-se evidente. Já havia surgido antes, aliás, quando Marina Silva atacou Aécio Neves ao declarar que, se for ao segundo turno, será derrotado por Dilma Rousseff.
Com isso, afastou a perspectiva de qualquer aproximação com o senador mineiro que poderia se transformar em fator importante entre as correntes da oposição. Não apenas na hipótese de um segundo turno, mas mesmo no primeiro. Porque, penso eu, as pesquisas do Datafolha e do IBOPE estão apontando uma escala de 31 pontos para as correntes contrárias à Dilma e ao PT. Rousseff permanece no patamar que para o Datafolha é de 37, e para o IBOPE, pesquisa que sucedeu à do Datafolha, de 40% das intenções de voto.
SINTONIA
As alianças eleitorais possuem relativa importância, mas dependem do grau de aceitação das candidaturas nas respectivas unidades da Federação. Firmar alianças, em si, nada acrescentam se não houver sintonia e se não captar votos adicionais. Além disso, não contribuem para aumentar o espaço na televisão do horário partidário. A divisão desse tempo, fator fundamental, claro, se bem utilizado, é regido pelo número das bancadas que os partidos possuem na Câmara Federal. As candidaturas estaduais, portanto, com base na própria lei eleitoral do país, não têm poder para alterar a distribuição estabelecida. Assim, os acordos regionais, na verdade, esgotam-se nas imagens dos candidatos nas bases originais. Dificilmente podem se refletir na dimensão nacional do debate.
O tempo partidário utilizado em São Paulo, Minas, Rio de janeiro, conjunto que representa 50% do eleitorado brasileiro, é o mesmo que é exibido em Sergipe, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, sobrando parcelas mínimas para os candidatos a governador, Senado, aos deputados federais e estaduais. A proporção utilizada para os candidatos à presidência permanece nas divisões pelos estados.
Mas ainda não é essa, embora muito forte, a questão mais abrangente. Está no desempenho dos candidatos nas respectivas unidades, sua penetração nas bases regionais e, ainda por cima de tudo, a capacidade que tiverem de transferir votos. Há, inclusive, não raro, casos em que a simples presença de um político na campanha faz com que os apoiados ou indicados por ele, ao invés de ganhar, percam votos.
É o caso, por exemplo, do deputado pelo Paraná, André Vargas, atualmente sem partido, cujo mandato (o Globo na segunda-feira) o PT, legenda da qual se desligou, agora deseja cassar. Pois se ele apoiar a candidata do partido ao governo estadual, basta isso, a senadora Gleisi Hoffmann estará derrotada. Ele não acrescenta. Ao contrário: subtrai. (Por Pedro do Coutto)