Por: Correio Braziliense – O isolamento político de Jair Bolsonaro (PL), que segue fora do Brasil desde o fim de 2022, é favorável a governistas, uma vez que o enfraquecimento do ex-presidente contribui para o fortalecimento do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O abandono ainda não está consolidado, porém, alguns nomes de partidos que colaram com o também ex-capitão do Exército nas Eleições 2022 estão à espera dos desdobramentos dos atos terroristas deste mês e do início do novo governo junto a demandas legislativas no Congresso.
Nomes ouvidos pelo Correio, alguns sob condição de off, se dividem sobre continuar numa espécie de base de apoio daquele que é aguardado — sobretudo por extremistas — para ser o principal líder de oposição ao petismo no Brasil. Primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados e parlamentar que chegou ao posto depois de Bolsonaro conseguir retirar Marcelo Ramos (PSD-AM), seu inimigo, do cargo, Lincoln Portela (PL-MG) afirma que “Valdemar Costa Neto [presidente nacional do PL] é um homem de palavra e que só deixará de apoiar ou ajudar Bolsonaro caso o ex-presidente da República abra mão de ser auxiliado”.
O parlamentar afirma que a decisão acerca das ajudas financeiras elencadas por Valdemar a Bolsonaro, com cargo remunerado na legenda e escritório para que ele organize a oposição a Lula, foi tomada depois de diálogos com correligionários da sigla.
Questionado sobre a hipótese de ainda haver apoio da sigla no caso de Bolsonaro ser preso — uma vez que o ex-presidente está sendo investigado no inquérito da Polícia Federal (PF) que apura os crimes cometidos no 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes —, o deputado mineiro sinalizou que vai ser respeitado o devido processo legal e o trânsito em julgado, para o PL considerar se Bolsonaro é culpado ou inocente.
Valdemar Costa Neto, porém, não fechou consenso de que será oposição parlamentar fechada a Lula. Clarissa Garotinho (União Brasil-RJ), não reeleita deputada federal, mas considerada uma importante liderança no Rio de Janeiro, afirma que vai continuar alinhada às pautas do ex-presidente e a ele. Seu partido é um dos que racharam no pleito do ano passado — parte apoiou Lula e parte apoiou Bolsonaro.
O presidente nacional da legenda, entretanto, Luciano Bivar, já apontou que não será oposição a Lula, que, para garantir o apoio da bancada no Congresso e desbancar, por exemplo, Sergio Moro (União Brasil-PR), negociou dois ministérios com a sigla.
Bandeira branca
O PP de Arthur Lira, presidente da Câmara, é o mais salutar exemplo de legenda rachada com relação a apoio a Bolsonaro. Lira — que na última segunda, ao ser questionado em coletiva de imprensa sobre culpabilização do ex-presidente por suposta incitação aos atos criminosos do início deste mês, disse que todos envolvidos teriam que pagar pelo ocorrido — acenou à governabilidade de Lula na Câmara, levantando bandeira branca ao petista, com quem já teve mal-estar em 2022.
Fontes próximas a Ciro Nogueira, do Piauí, cacique do PP, disse que o também ex-ministro de Bolsonaro objetiva ser oposição a Lula no Senado e assim seguir próximo ao seu ex-chefe, mas que não sabe como o integrante do PP vai conseguir ser oposicionista, uma vez que “dentro do partido a tendência é de que as coisas sejam vistas numa concepção regionalizada”. “Um parlamentar do Sul não será a favor de Lula e contra Bolsonaro. A mesma coisa o contrário.”
“Cachorro caído de mudança”
Um deputado federal bolsonarista que pediu para não ser identificado disse que “agora é hora, como diz no ditado popular, do balanço do caminhão arrumar as abóboras. Percebo que quem tem agenda própria e que se somava com Bolsonaro está tocando a vida. Outros que simplesmente vieram na retórica e na onda estão meio que como cachorro caído de mudança”.
“O tempo será o responsável, mas o legado de Bolsonaro é muito maior que ele próprio. Ele é o líder e a referência, mas nós que temos mandato não podemos ficar só esperando ele. Temos que ajudar, atuar, defender o legado e ousar. Quatro anos voam […] Bolsonaro é muito mais forte do que se imagina: deixou um legado muito forte. Se fizerem qualquer ato para ‘impedir’ a atuação política dele, inclusive prendendo-o, além de força política, ele vai ganhar outros motivos de retóricas”, complementou à reportagem.