Por Mauricio Costa Romão*
O blog do Magno presenteou os interessados na política recifense com uma oportuna pesquisa de intenção de votos para prefeito da capital a exatamente um ano das eleições de 2020.
Com a pesquisa, levada a efeito pelo Instituto Opinião, nos dias 28 e 29 de setembro, tem-se um primeiro panorama quantitativo das preferências do eleitorado do Recife com vistas ao pleito do próximo ano.
Um levantamento assim, isolado, ainda distante da eleição, embora ofereça uma boa visão sobre o quadro eleitoral, diz muito pouco em termos estratégicos, de prognóstico, de futuro. Aqui não dá prá escapar do famoso clichê: “pesquisa é o retrato do momento”. E cada momento capta uma dada situação, um dado sentimento do eleitorado, um dado ambiente psicossocial, uma dada configuração político-eleitoral.
Os resultados expressos em intenção de voto, em cada um desses instantes de tempo, revelam apenas o estado das artes daquele momento específico. O problema todo é que o eleitor (e, ás vezes, o candidato) não compreende essa fatalidade temporal, fica ansioso, e internaliza esse momento individual como projeção do que vai acontecer mais à frente.
Por exemplo, na eleição de 2008 para prefeito do Recife, um ano antes da eleição, uma pesquisa publicada apontou Cadoca com 30,2% de intenção de votos e João da Costa com 4,3%, dois dos potenciais pré-candidatos. Era um momento inicial como esse de agora, véspera da pré-campanha. Quem extrapolou aquele contexto para o futuro, equivocou-se redondamente: Cadoca terminou a eleição com 3% e João da Costa ganhou o pleito no primeiro turno.
Cabe ainda mencionar que o processo eleitoral está apenas começando, há muitas indefinições político-partidárias locais e nacionais e o eleitorado está alheio neste momento ao pleito de 2020, tanto assim é que, no presente levantamento do Instituto Opinião, um terço dos eleitores recifenses (vide tabela que acompanha o texto) não declarou preferência pelas potenciais pré-candidaturas apresentadas que, inclusive, mais à frente, podem nem ser essas, ou apenas essas.
Bem, no conjunto dos potenciais pré-candidatos pesquisados pelo Instituto Opinião distinguem-se três grupos, em termos de intenção de votos (vide tabela). O primeiro, formado pelos três líderes da pesquisa, tem pontuações de empate técnico entre o primeiro e o segundo colocado, João Campos (13,6%) e Marília Arraes (12,5%), e entre esta e o terceiro colocado, Mendonça Filho (9,4%).
A posição de lideranças desses três potenciais pré-candidatos neste levantamento não chega a surpreender, visto que vêm todos de destacadas performances na última eleição, justificando o recall na mente do eleitorado.
Com efeito, o deputado federal João Campos conseguiu ser na eleição de 2018 o parlamentar pernambucano mais votado da história, em termos nominais, obtendo 460.387 votos (o que representa 10,63% dos votos válidos, longe, todavia, do recorde brasileiro do seu bisavô, Miguel Arraes, que teve 19,28% dos votos válidos, em 1990). Ademais, é o herdeiro político do ex-governador Eduardo Campos e vem sendo trabalhado pelo PSB como continuador da hegemonia do partido no Recife.
Marília Arraes chegou até a liderar algumas pesquisas de intenção de votos para governador de Pernambuco em 2018, figurando, na ocasião, como uma possível ameaça ao reinado do PSB no estado, mas foi sumariamente defenestrada por arranjos do seu partido, o PT, com o PSB. Ainda assim, em vôo solo para deputada federal em 2018, obteve 193.108 votos, a segunda maior votação do pleito, ajudando o seu partido a quebrar uma tradição em Pernambuco: desde 1982, há nove eleições, nenhum deputado federal por Pernambuco havia sido eleito sem ser por uma coligação. Marília e Carlos Veras pelo PT e Pastor Eurico pelo Patriotas conseguiram esse feito. Se pudesse se cacifar como candidata do PT para a eleição vindoura, Marília seria bem competitiva, mas isso parece difícil, pois as forças que a derrubaram o ano passado estão mais fortes agora.
Mendonça Filho, que vinha de elogiada passagem pelo MEC, como ministro, logrou excepcional desempenho na eleição passada, por pouco não se elegendo senador do estado. De fato, na disputa da segunda vaga, ele conquistou 1.302.446 votos contra 1.430.802 votos do favorito, senador eleito Jarbas Vasconcelos, uma diferença de apenas 128.356 votos (1,93%). O ex-ministro está se consolidando como a grande aposta da oposição para o pleito de 2020.
O segundo grupo que se destaca na tabela em termos de intenção de votos é o composto por Daniel Coelho (7,1%), André Ferreira (5,0%) e Felipe Carreras (4,1%). Daniel e Felipe são deputados federais reeleitos em 2018 e André está no seu primeiro mandato. São parlamentares jovens e atuantes, de promissora carreira política. Suas pontuações de intenção de votos estão abaixo daquelas do grupo líder, mas com resultados relativamente expressivos.
Por fim, o último grupo, conta com potenciais pré-candidatos que tiveram menos que 4% de intenção de votos no levantamento em tela. Com exceção de Marco Aurélio, que é deputado estadual, os demais são federais, entre veteranos (Luciano, André e Raul) e novos (Túlio e Sílvio).
Dos números da tabela não é possível fazer conjecturas quanto ao futuro. Na medida em que a pré-campanha e a campanha forem progredindo, os eleitores vão sendo submetidos a novos fatos, propagandas, horários de rádio e TV, redes sociais, vão tomando conhecimento de celebração de alianças político-eleitorais, de declarações de apoiamentos, vão conhecendo melhor os pré-candidatos e posteriores candidatos, vão entrando no clima da eleição, etc. As percepções, as emoções, os sentimentos dos eleitores vão-se modificando. As pesquisas vão captando essas mudanças e no instante apropriado algumas tendências já poderão ser vislumbradas.
*Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos