O governador Paulo Câmara queria ser candidato a senador e convencer o PSB a apoiar a candidatura de Humberto Costa, pelo PT, mas não conseguiu dobrar as principais lideranças socialistas. Contou apenas com o apoio do ex-presidente Lula por razões óbvias. Vai ficar, portanto, até o fim da sua gestão, entrando em 2023 na fase mais difícil da sua vida pública, a condição de político sem mandato.
É o sereno que nenhum homem público deseja. Joaquim Francisco, de quem fui secretário de Imprensa, dizia que político sem mandato é obrigado a cortar o capim que cresce no quintal da sua casa porque não aparece mais nenhum assecla ou bajulador para tal missão. O que não consigo entender é algo muito simples: como Paulo Câmara aceita ficar sem mandato sem o direito de eleger o seu sucessor?
Com José Neto, seu nome preferencial, caso viesse a ser eleito, teria uma espécie de compartilhamento de poder. Com Danilo Cabral, alternativa que se especula já certa pelo PSB para disputar o Palácio em nome da Frente Popular, Paulo Câmara não teria ou terá, se ele também vier a ser eleito, o mesmo trânsito, a mesma liberdade e o mesmo poder de influência na futura gestão. Até porque ficará a versão de que não foi ele que escolheu Danilo, mas o clã Campos.
O governador tende a entrar no ostracismo, portanto, sem ter o direito de fazer o nome de sua preferência. Se Geraldo Júlio, apontado como o candidato natural, abdicou da disputa, Câmara, para um bom entendedor, ficou livre para fazer o seu sucessor, mas tende a não ter esse direito, aceitando Danilo. Mesmo que tenha proximidade com Danilo, tendo sido seu chefe de gabinete na Câmara de Vereadores do Recife, conforme informei ontem, Zé Neto candidato estaria ungido pela força política e escolha pessoal dele, como fez Eduardo Campos quando escolheu o próprio Câmara, há oito anos, para disputar a sua sucessão.
Pela primeira vez se assiste em Pernambuco um governador de dois mandatos ficar desempregado, obrigado a bater ponto como auditor no Tribunal de Contas, sua casa de origem, no futuro, porque não teve o direito legítimo de escolher o seu sucessor.