O governador eleito Paulo Câmara anunciou seu secretariado. Os nomes e os métodos reafirmam o que já alertávamos desde os tempos em que o atual prefeito do Recife teve sua candidatura lançada, lá em 2012. O discurso de colocar técnicos para gerir o Estado é um artifício retórico que traz na sua essência algo que é pior do que a velha política: a velha política maquiada, com retoques plásticos, em que a dissimulação toma o centro da ação política, com o objetivo primeiro de assaltar a democracia.
Que lógica obedeceu o preenchimento dos cargos do primeiro escalão? A camada mais aparente mostra nitidamente a preocupação com o loteamento da gestão a partr da lógica da perpetuação do poder e não com o objetivo de montar uma equipe para fazer uma gestão pública transparente, inovadora, com participação popular de fato e de direito, e que se poderia chamar de nova prática ou política.
Peças foram movidas para desidratar a oposição ao aliado Geraldo Julio na Câmara do Recife, assim como para tentar conter entre coligados rebeldes o ímpeto pela disputa da sucessão do mesmo Geraldo Julio daqui a um ano e meio. O PSDB terá duas secretarias e mais um deputado estadual, tornando-se devedor de uma fatura que será cobrada na hora certa.
O desprestígio do senador recém eleito, que inclusive lançou nota pública a respeito, é prova disso também. A lógica não foi de privilegiar pontes mais sólidas com Brasília, dialogando com o único senador de dentro das hostes do Palácio do Campo das Princesas, diante de um sabido período de vacas magras que se avizinha e diante de uma relação conflituosa e ainda não cicatrizada com a presidenta recém reeleita. A lógica foi a do cálculo do poder de curtíssimo prazo. Nada mais velho na política.
A indicação apressada do seu líder de Governo na ALEPE, conjugada com a presença do atual presidente da mesma ALEPE na solenidade que apresentou o secretariado, não deixa espaços para outra interpretação que não a de que o caminho está aberto para uma quarta reeleição consecutiva do atual presidente da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Pernambuco, anunciando indiretamente que este caminho é o que leva a Casa de Joaquim Nabuco a não cumprir seu papel de fiscalizar o Poder Executivo, de novo, no próximo período.
Lógica não menos perversa é percebida no conceito que percorre toda a espinha dorsal do novo governo que se avizinha. Esporte foi agregado com Turismo e Lazer, e será gerenciado por um empresário de casa de shows. Água e saneamento básico (Compesa) continuam sendo tratados como mercadoria e não como direito social. A Educação não terá um educador dando norte à pasta, mas um especialista em gestão fiscal e em negócios de petróleo e gás. Ou seja, esporte é um penduricalho que está a cada dia mais distante de educação e saúde; água e saneamento não são pra gerar lucro social, mas financeiro; educação não é investimento no presente e no futuro, mas algo com que não se pode gastar muito. E pronto.
A sociedade pernambucana, sobretudo os movimentos sociais, a sociedade civil organizada, as mídias independentes, precisam estar alertas para as futuras ações deste governo. Será preciso forte fiscalização, pressão social, para que o orçamento público seja voltado para os melhores interesses da nossa população e para que a gestão do que é público seja realmente democrática. Da Assembleia Legislativa, na condição de Deputado Estadual, estaremos fazendo a nossa parte, no campo da oposição. Fiscalizar este governo com lupas e colocar nosso mandato como um instrumento a serviço da sociedade e suas justas demandas é a nossa tarefa a partir de 1º de fevereiro de 2015.
*Presidente do PSOL-PE e Deputado Estadual eleito.