Renata Bezerra/Folha de Pernambuco
O decreto do Governo do Estado que estabeleceu a quarentena, a partir do último dia 18, vigora até o próximo domingo. Às vésperas do fim da vigência do mesmo e também um dia antes da coletiva de balanço dos números da pandemia, marcada para hoje, o governador Paulo Câmara, em pronunciamento ontem, já fez uma fala dura em relação ao cenário atual. Na rede pública do Estado, a taxa de ocupação de leitos de UTI segue na casa dos 97% e, na rede privada, é de 91%, segundo boletim emitido ontem pela Secretaria Estadual de Saúde. Ao anunciar a quarentena, no último dia 15, o Governo do Estado já realçava “uma taxa de ocupação de UTI acima dos 95%”. Em outras palavras, a despeito do esforço empreendido para abertura de leitos, de lá para cá, não houve queda nesses números. O governador, ontem, ao destacar o índice de 55% de isolamento social, constatado no último domingo, informou ter sido esse o maior patamar registrado este ano. Na sequência, entretanto, acendeu o sinal amarelo, advertindo logo o seguinte: “Apesar de termos atingido essa marca importante, precisamos aumentar os índices de isolamento para reduzir o contágio e aliviar a pressão sobre o sistema de saúde”.
Integrantes da gestão, nos bastidores, admitem que, “para bom entendedor”, essa palavra basta. Uma outra ala, em reserva, observa que, diante dos números, não há muita alternativa a não ser prorrogar o decreto. Nessa linha, se argumenta que o aviso da prorrogação não pode ser feito em cima da hora. Em função disso, dizem, há uma tendência de que novas diretrizes já sejam apresentadas hoje durante a coletiva, às 16h30, para que passem a valer na segunda-feira. Ainda ontem, Paulo Câmara registrou o total de pessoas em leitos de UTI com Covid-19: 1.325. Na segunda, à CBN Recife, o governador realçara os 1400 leitos ocupados e projetara a abertura de mais 200. Ontem, no entanto, voltou a alertar: “Por mais que tenhamos aberto mais de 400 leitos de UTI em menos de um mês e que vamos abrir mais de 200 novos leitos nos próximos dias, não vamos interromper essa aceleração da Covid-19 sem passar por essa quarentena”.
O comitê anti-Covid, anunciado ontem – quando o País bateu a trágica marca de 300 mil mortos – por Jair Bolsonaro, tem sido definido, entre parlamentares, como uma “última chance” dada pelo Congresso ao presidente para que ele despolitize a questão e assuma a coordenação do processo. Não à toa, horas depois do encontro, o presidente da Câmara, Arthur Lira, registrou estar “apertando o sinal amarelo” e alertou que os “remédios políticos” para a “espiral de erros” podem ser “fatais”.
Nos próximos 15 dias, o Congresso deve se concentrar só em pautas de Covid-19. Esse debate foi pautado pela Oposição, ontem, no colégio de líderes, e obteve adesão dos governistas. Como a coluna cantara a pedra, oposicionistas vinham ameaçando obstruir, caso isso não ocorresse, depois que a PEC 186 mirou o auxílio emergencial, mas carregou, no bojo, “como cereja do bolo”, dizem deputados, uma reforma fiscal.