Agora que o presidente Jair Bolsonaro finalmente encontrou um partido para chamar de seu, as demais legendas que cogitaram recebê-lo analisam qual rumo tomar para as eleições de 2022. Filiado ao PL, desde 30 de novembro, o chefe do Executivo flertou com o PP, PTRB e despertou interesse do Republicanos.
O Patriota — legenda à qual Bolsonaro avaliou a filiação e acabou provocando um racha interno — ainda não decidiu se terá candidato próprio ou se apoiará um dos nomes já lançados na corrida ao Planalto. O presidente da sigla, Ovasco Resende, chegou a se reunir com o pré-candidato Sergio Moro e com Renata Abreu, presidente do Podemos — partido ao qual o ex-juiz se filiou —, na intenção de viabilizar uma eventual aliança, mas as negociações não avançaram.
Resende informou que a decisão sobre a eleição presidencial de 2022 só será tomada depois do parecer das lideranças estaduais, o que deve ocorrer até o final deste mês. Segundo ele, o foco do Patriota é cumprir a cláusula de barreira, um dispositivo legal que restringe ou impede a atuação parlamentar de um partido que não alcança um determinado percentual de votos.
“Vamos ouvir todas as regionais sobre termos de candidatura majoritária em nível nacional. Estamos aguardando essa análise para saber se teremos nome próprio ou se vamos apoiar algum candidato à presidência e, posteriormente, vamos decidir”, explicou. “A tendência é respeitar as decisões regionais, de cada estado, com suas peculiaridades. Temos de respeitar os locais, porque nossa principal meta, hoje, é cumprir a cláusula de barreira.”
Sobre a sondagem ao postulante do Podemos, Resende comentou que o país precisa de alternativas. “Fora da polarização, têm-se apresentado vários nomes de qualidade, e Moro se inclui nisso. É um nome novo na política. Ele tem grandes chances de agregar valores e criar musculatura”, avaliou. “Ainda é cedo para falar da Presidência da República. Temos até o final de abril para filiações, depois, as convenções em julho. Aí, sim, as coisas vão se definir.”
No PTB, outro partido que abriu as portas para a filiação de Bolsonaro, mas teve o convite recusado, a presidente, Graciela Nienov, afirmou que a sigla seguirá fechada com o chefe do Executivo. “Na última convenção, decidimos apoiá-lo. Indiferentemente do partido no qual esteja, Bolsonaro ainda representa o que está no estatuto do PTB. No partido, o Brasil todo está alinhado com a direita”, frisou.
“No Ceará, temos o Delegado Cavalcante; em São Paulo, Otávio Fakhouri; em Santa Catarina, Kennedy Nunes. Alinhamos todos os diretórios. Estamos tranquilos. Não vamos ter dificuldade nenhuma nos estados de alinhar com o grupo do Bolsonaro, não pelo PL, mas pelo Bolsonaro, a figura Bolsonaro”, enfatizou.
O PTB pretende filiar o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, em negociação com Fakhouri e, possivelmente, lançá-lo ao governo de São Paulo. No entanto, há um impasse pela disputa do Palácio dos Bandeirantes, pois Bolsonaro já afirmou que quer indicar o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas — ele deve se filiar ao PL.
De acordo com Nienov, a pretensão é eleger entre 25 a 30 deputados federais. Já para o Senado, onde o partido não tem nenhum representante, há dois nomes na mira: o deputado estadual Kennedy Nunes, de Santa Catarina; e o deputado federal Sérgio Moraes, do Rio Grande do Sul. Ainda segundo ela, a legenda deve receber migração de bolsonaristas, como a deputada estadual Alana Passos (PSL-RJ).
No caso do PP e do Republicanos, é quase certa uma aliança consolidada com o PL, que pode proporcionar palanques estaduais mais volumosos a Bolsonaro no Nordeste, reduto petista.
Migração
A ida de Bolsonaro para o PL pode fazer com que aliados de outros partidos também se filiem à legenda. A expectativa é de que parlamentares do PP, PSL, Patriota e Republicanos aproveitem a próxima janela partidária para se unir à sigla de Valdemar Costa Neto.
O deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS) disse que continuará na legenda, mas vê uma tendência de que outros políticos migrem para o PL por influência de Bolsonaro. “Muita gente vai acompanhar o presidente, mas eu continuo no meu partido”, ressaltou. “Aconteceu com o PSL, que já existia, mas com ele (Bolsonaro), cresceu muito.”
O deputado federal Átila Lira (PP-PI) acredita que a debandada será pequena. “Os que vão mesmo são os deputados do PSL. Eu sou do PP, mas não conheço ninguém que queira sair. Os deputados do PP, de maneira geral, não têm queixa do partido”, comentou.
O cientista político André César observou que “o fato de o presidente ter entrado no PL era uma bola cantada, gera questões no âmbito Centrão”. “O PP de Ciro Nogueira continua com muito peso, então, está jogando bem. É mais interessante porque não se vincula ao presidente. O PP fica livre para voar um voo solo tranquilo”, argumentou. “Os partidos do Centrão jogam muito fluido e vão disparando os interesses regionais deles.”
Na avaliação do cientista político Danilo Morais dos Santos, professor do Ibmec Brasília, as alianças nacionais de partidos do Centrão, como PP, PTB e Republicanos, com a chapa de reeleição de Bolsonaro devem ser objeto de intensa negociação até março de 2022, momento em que o cenário eleitoral ficará mais claro.
“Se a aprovação do atual presidente seguir minguando e a composição com sua coligação majoritária impuser restrições severas a acordos com partidos de esquerda no plano regional, sobretudo no Nordeste, a tendência é de que o Centrão bata em retirada”, acrescentou.