Por Cristiane Noberto / Victor Correia /Correio Braziliense – Com o cenário eleitoral polarizado, partidos começam a avaliar os efeitos de um comportamento do eleitorado: o voto útil. O senador Marcos Rogério (PL-RO) acredita que as dificuldades da terceira via apontam para essa tendência. “Mais para frente, esse movimento vai acabar acontecendo, quando as pessoas observarem que nenhum daqueles nomes, que se dizem terceira via, se viabilizam”, considera.
O parlamentar aposta, inclusive, na aproximação de integrantes da terceira via com o presidente Bolsonaro. “Daqui a pouco, a própria terceira via pode fazer um movimento de ajuntamento para tentar ganhar consistência, ganhar expressão”, frisa.
O senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) faz leitura semelhante. E cita como exemplo o PSDB, onde haveria um percentual de eleitores que eventualmente migrariam para a candidatura de Bolsonaro. “É difícil a pesquisa mostrar, mas há muita resistência antipetista. Os 10% da terceira via serão decisivos”, apontou.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES), por sua vez, acredita que o eleitor ainda votará por convicção. “O eleitor vai saber comparar duas gestões: uma exitosa, uma gestão que teve um olhar além da saúde fiscal, teve uma saúde social. Que soube aliar responsabilidade fiscal com social, e outra que não teve”, comparou.
O atual governo, infelizmente não sabe viver numa democracia e violou principalmente o direito à vida humana. Em todos os aspectos, porque, quando ele tira verba da área da saúde ele está matando a população. Então, eu não vejo isso (do voto útil)”, afirmou.
O senador Cid Gomes (PDT-CE) acredita que, no primeiro turno, o voto será de identificação. “A meu juízo, a única possibilidade do voto útil ser utilizado, num primeiro momento, seria se um dos dois candidatos tivesse real chance de vencer no primeiro. Nenhum dos dois (Lula ou Bolsonaro) estão totalmente consolidados. Bolsonaro confia na força da fisiologia do Centrão, e Lula é o candidato mais popular. Mas os laços com as pessoas ainda é frágil”, afirma.
Analistas são cautelosos em relação aos movimentos do voto útil. Mas já adiantam algumas observações. Para Paulo Kramer, a terceira via conta com o voto útil para se viabilizar. Porém, a falta de uma candidatura forte dificulta a conquista do eleitorado. “O que você vê nas pesquisas é que o Bolsonaro está tirando votos da terceira via, e não o contrário, como eles esperavam”, comenta.
O cientista político André Rosa ainda acredita que esse comportamento do eleitorado pode influir no pleito. “[O voto útil] costuma ser um fator forte, pode decidir uma eleição com certeza. Bolsonaro herdou muito o voto útil em 2018, com eleitores que votariam no Alckmin. Mas está difícil falar sobre isso agora”, comenta.
Para ele, o voto útil se torna um fator concreto a partir do momento que um candidato alternativo tem chances reais de vitória. E ele cita o exemplo de Bolsonaro em 2018, quando ele capitalizou se apresentou como uma opção ao PT, ao PSDB e a outros partidos.
“O voto antipetista foi para o Bolsonaro para tentar fazer ele ser eleito no primeiro turno. Mas no momento atual, o eleitor vai votar em quem? O eleitor não vai desperdiçar o voto dele assim”, afirma André.
O cientista político aposta em uma perspectiva mais clara sobre o voto útil em junho ou julho, quando estiver consolidada a candidatura única da terceira via. Ele alerta, porém, que um grande número de fatores afeta as eleições e que é difícil fazer estimativas.