Na coordenação de pesquisas eleitorais do Instituto Datafolha desde 1988, o sociólogo Mauro Paulino vê esta eleição presidencial como a mais imprevisível de todas que acompanhou. Para o diretor-geral do instituto, a primeira disputa eleitoral após as manifestações de junho de 2013 será marcada por uma forte desconfiança do eleitorado com os políticos tradicionais e por um grande desejo de mudança – não necessariamente de nomes, mas de práticas.
E, apesar de os três principais presidenciáveis adotarem a palavra “mudança” em seus slogans de campanha, nenhum deles ainda conseguiu convencer o eleitor de que é capaz de ser o autor dessas transformações, segundo ele. Uma realidade que poderá mudar a partir do próximo dia 19, quando começará o horário eleitoral gratuito.
“Nesta eleição, assim como nas anteriores, o cenário econômico será decisivo, mas a cobrança por melhores serviços públicos e por uma modificação no discurso político tradicional será mais forte”, diz o diretor do Datafolha.
A imprevisibilidade da sucessão presidencial, observa Mauro Paulino, decorre de alguns indicadores colhidos pelo instituto nas ruas: nunca tantos brasileiros (67%) disseram não ter preferência partidária; jamais o percentual de indecisos (27%) foi tão grande em um começo de campanha, nunca um candidato partiu em busca da reeleição presidencial com popularidade tão baixa (32%); jamais tantos entrevistados (74%) manifestaram desejo por mudança.
“O índice de eleitores que pretendem anular o voto é mais alto do que em outras eleições nessa mesma época. Há uma série de indicadores que mostram que o eleitor está muito desconfiado dos políticos e está cobrando muito mais deles”, avalia.
Para Paulino, Dilma tem sentido o mau-humor do eleitor, com oscilações negativas nas intenções de votos. Mas seus principais oponentes – Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) – ainda são pouco conhecidos do eleitorado e não conseguiram, antes do início do horário eleitoral, convencer o eleitorado de que representam uma alternativa para realizar as transformações que as ruas pedem.
“É isso que vai definir a eleição. Como cada campanha vai conseguir se comunicar com esse eleitor que está muito desconfiado dos políticos. Um discurso que seja mais factível, que tenha poder de convencimento maior e que mostre que, de fato, pode mudar alguma coisa”, diz o sociólogo.
Segundo o diretor do Datafolha, apesar de as pesquisas indicarem que Aécio e Campos têm maior potencial de crescimento nas intenções de voto, Dilma poderá virar o jogo se valendo do maior tempo de exposição que terá na mídia – quase o dobro de seus principais oponentes no horário eleitoral e a exibição na TV e no rádio de seus atos como presidenta. “Existe esse desejo de mudança em potencial de crescimento maior para os candidatos de oposição, mas contra uma candidatura muito forte do governo, que tem uma taxa de intenção de voto hoje maior do que a dos candidatos de oposição”, pondera.
Na avaliação de Mauro Paulino, a estratégia de Aécio de trazer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para a sua campanha, diferentemente do que fizeram os ex-presidenciáveis tucanos José Serra (em 2002 e 2010) e Geraldo Alckmin (em 2006), tende a causar mais prejuízos do que benefícios. “A lembrança que as pessoas têm do governo Fernando Henrique é negativa. Certamente a campanha do governo vai trazer isso à tona”, diz.
Já Eduardo Campos, segundo ele, tem o desafio de se fazer conhecido além do Nordeste e de conquistar o eleitor de Marina Silva, sua vice, que recebeu quase 20 milhões de votos quatro anos atrás. “Acho que o eleitor de Marina Silva está ainda um pouco desinformado e confuso com relação à candidatura do Eduardo Campos”, considera. (Congresso em Foco / Jamildo)