O discurso foi visto como uma referência à guerra da Ucrânia. Desde o início do conflito, o pontífice tem adotado uma postura crítica à invasão russa ao país vizinho em suas missas e discursos.
“Homens e mulheres em nosso mundo, em sua fome de riqueza e poder, consomem até mesmo seus vizinhos, seus irmãos e irmãs”, disse ele. “Quantas guerras já vimos! E em quantos lugares, ainda hoje, a dignidade e a liberdade humanas são tratadas com desprezo!”
Francisco, celebrando o 10º Natal de seu pontificado, presidiu uma solene missa de véspera de Natal na Basílica de São Pedro. A cerimônia foi a primeira com capacidade para cerca de 7 mil pessoas desde o início da pandemia.
Cerca de 4 mil outras pessoas participaram do lado de fora, na Praça de São Pedro, em uma noite relativamente quente.
Basílica de São Pedro, no Vaticano, durante a Missa do Galo, presidida pelo papa Francisco, em 24 de dezembro de 2022. — Foto: Gregorio Borgia/ AP
Como tem acontecido nos últimos meses, um problema no joelho impediu Francisco de ficar de pé por longos períodos, delegando um cardeal para ser o principal promotor da cerimônia no altar da maior igreja da cristandade.
Sentado ao lado do altar durante a maior parte da missa, Francisco teceu sua homilia em torno do tema da ganância e do consumo em vários níveis. Ele pediu às pessoas que olhem além do consumismo que “embalou” a festa de natal para redescobrirem seu significado e lembrarem aqueles que sofrem com a guerra e a pobreza.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro, Francisco se manifestou contra a guerra em quase todos os eventos públicos, pelo menos duas vezes por semana, denunciando o que chama de atrocidades e agressão não provocada. Ele, porém, não citou o nome da Ucrânia na noite deste sábado.
“Como sempre, as principais vítimas desta ganância humana são os fracos e os vulneráveis”, disse ele, denunciando “um mundo faminto por dinheiro, poder e prazer…”
“Penso sobretudo nas crianças devoradas pela guerra, pela pobreza e pela injustiça”, disse o papa, referindo-se também às “crianças nascituras, pobres e esquecidas”.
Traçando um paralelo entre Jesus nascido em uma manjedoura e a pobreza de hoje, o papa disse: “Na manjedoura da rejeição e do desconforto, Deus se faz presente. Ele vem porque ali vemos o problema de nossa humanidade: a indiferença produzida pela pressa gananciosa de possuir e consumir.”
No início deste mês, o papa pediu para as pessoas gastarem menos com as celebrações e presentes de Natal para enviarem a diferença aos ucranianos para ajudá-los a passar o inverno.
O papa completou 86 anos na semana passada. No domingo (25), Francisco deve fazer sua bênção e a tradicional mensagem “Urbi et Orbi” (para a cidade e para o mundo) bianuais do balcão central da Basílica de São Pedro para dezenas de milhares de pessoas.