Por Magno Martins – Começou o jogo da sucessão estadual. Findo os prazos para as mudanças de partido, o quadro da disputa ficou estabelecido com cinco candidaturas de peso, quatro de oposição e uma vinculada ao Governo Paulo Câmara. Agora é perceber, para além das paixões, quem parte na frente nessa corrida. E, nesse caso, não basta olhar as pesquisas de intenção de voto porque nelas é perceptível que as eleições ainda não estão na agenda da população, visto que os últimos levantamentos mostram que mais de 70% das pessoas (espontâneas) não sabem ainda em quem votar.
O importante é observar agora quem está mais organizado e de que maneira consegue chegar a um eleitorado ainda desinteressado. O jogo pelo Governo de Pernambuco neste ano não é de estrutura, não é de máquina pública nem de padrinho político, principalmente nesta fase. A disputa é de quem conseguir furar a bolha da política, chegando aos corações dos eleitores mais desencantados e descrentes em relação aos partidos e aos políticos. Por isso, é importante observar os movimentos que cada candidato tem feito para além das agendas de encontros políticos e das posições que marcam na imprensa.
Sem alarde, Miguel Coelho, por exemplo, conseguiu reduzir em um terço (20 pontos percentuais), em apenas dois meses, o nível de desconhecimento que tinha no Agreste, que é o segundo maior colégio eleitoral regional de Pernambuco, com 1,7 milhão de eleitores, atrás apenas da Metropolitana do Recife, que tem 2,9 milhões.
Conseguiu isso graças a uma estratégia forte de ação nas redes sociais, iniciada lá atrás, ainda no ano passado, e que poderá levá-lo a chegar ao período eleitoral propriamente dito, entre julho e agosto, mais conhecido pelo eleitorado e reconhecido pelo trabalho que realizou em Petrolina.
Miguel vem atuando com uma estratégia clara de ação: procura ser o mais propositivo, com ideias concretas e dirigidas a segmentos importantes da população. Por ser o mais jovem na disputa, é também o mais digital dos cinco pré-candidatos. Enquanto os adversários patinam e ainda tentam estruturar suas campanhas, o ex-prefeito de Petrolina está prestes a lançar o seu programa de Governo e se comunica semanalmente com cerca de 1 milhão de perfis nas redes sociais.
Na política, no entanto, o desafio de Miguel é o mesmo de Raquel Lyra (PSDB). Conseguir evitar que o processo eleitoral caminhe para uma polarização entre os candidatos marionetes, que dependem de palanque nacional. Na eleição deste ano tem dois tipos de candidato. De um lado, estão Miguel e Raquel, sem padrinhos de peso para se apoiar nem tentar alavancar suas candidaturas. De outro lado, estão os nomes que dependem de uma muleta nacional para tentar alcançar alguma notoriedade e simpatia.
Neste grupo estão Danilo Cabral e Marília Arraes, que lutam para dividir o que resta de popularidade de Lula. Danilo tem a dificuldade de carregar o peso morto do governador Paulo Câmara e seus mais de 60% de desaprovação. Marilia paga o preço de andar com a velha política, depois de estar associada aos malfeitos do PT. Pior do que isso, porém, é a falta de experiência administrativa.
Após 8 anos de fracasso do PSB, com um governador tão ou mais mal avaliado que o presidente, o desafio administrativo de Pernambuco é hoje maior que o do Brasil. É preciso ter capacidade de gestão para recolocar o Estado nos trilhos do crescimento, o que Marília ainda não tem.
Mas nesse time da muleta está também Anderson Ferreira (PL), que aposta em ter com ele 100% dos votos de Bolsonaro, o que é pouco provável, e com a dificuldade de tentar não se melar na rejeição do presidente, acima dos 60%.
No meio desses polos, Miguel leva vantagem em relação a Raquel por estar organizado e ser mais propositivo e digital. Além disso, por ter um acervo de realizações mais robusto, por dispor se maior estrutura de prefeitos e lideranças que o apoiam em todo o Estado, graças ao trabalho coordenado do senador Fernando Bezerra Coelho, pai de Miguel e artífice do palanque que levou Eduardo Campos à vitória em 2006.
Um outro aspecto importante é que Miguel tem o Sertão (1,2 milhão de eleitores) majoritariamente unido em torno de sua candidatura, ao contrário de Raquel que não conseguiu sair da prefeitura de Caruaru unindo o Agreste, o que poderia catapultar o seu nome. Miguel não apenas uniu o Sertão, mas, mais do que isso, deixou o comando da prefeitura com 90% de aprovação em Petrolina. Ou seja, os próximos meses, amigos, serão decisivos nesse jogo. É preciso estar preparado.