Entre os principais desafios para o primeiro mandato de João Campos (PSB) à frente da Prefeitura do Recife e do governador Paulo Câmara (PSB) no seu sétimo ano no Palácio das Princesas está a administração das consequências da pandemia da Covid-19 e dos efeitos dela na economia, assim como o diálogo com o Governo Federal, uma vez que o partido dos dois gestores encontra-se na Oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As movimentações do PSB neste ano também devem ter impacto nas eleições de 2022.
Para a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa, “desafio” é a palavra que resume o ano de 2021 para as gestões municipal e estadual, sobretudo no contexto da pandemia, que potencializa todas as questões, como distribuição de recursos e definição de prioridades.
Na avaliação de Priscila, é desafiador “principalmente para um partido que está há muito tempo à frente do poder e que ao longo dos processos eleitorais sofreu desgaste e perda de alianças”. “Existe um desgaste natural e isso, claro, se potencializa para um início de uma nova gestão (de João Campos) e no caso de Paulo Câmara, para o início do biênio no final do seu mandato – esses dois anos mais decisivos que vão respectivamente dar o rumo dos resultados da política, da economia, das políticas sociais e que realmente vão impactar para avaliação do eleitor para o processo eleitoral de 2022”, aponta.
Já o cientista político e professor da UFPE, Arthur Leandro, analisa que João Campos vai assumir a Prefeitura em um ambiente politicamente favorável, com maioria na Câmara Municipal e um ambiente de articulação com Paulo Câmara e governo estadual.
“Pode até ser beneficiado pelo contexto de renovação do decreto de calamidade pública pelo governador, uma vez que ele vai poder descumprir, inclusive, uma série de protocolos referentes às questões do direito administrativo”, explica. “A situação poderia ser bem menos auspiciosa caso o arranjo político no Estado fosse diferente”, complementa.
Covid-19
A pandemia do novo coronavírus e a corrida pela vacina devem ser pontos prioritários para as gestões de Paulo Câmara e João Campos. Segundo Lapa, o cenário nacional é de endividamento e déficit nas contas públicas, o que traz dificuldades para as administrações brasileiras.
“A gente tem o endurecimento de uma pandemia, um cenário de projeção de poucas ajudas e pouca concertação federativa para a solução desse problema. Há pouca clareza e pouca sinalização do Governo Federal sobre novos auxílios e novos repasses de novas políticas que serão tomadas com agravamento da pandemia”, aponta Priscila Lapa.
Ainda segundo ela, ao contrário do que ocorreu em 2020, “ninguém quer admitir a possibilidade de ter que fechar de novo as atividades econômicas” caso a saúde pública atinja um processo de colapso porque agora o que está na agenda não é mais isolamento ou lockdown, mas a vacina. “Então esses dois gestores vão ter esse desafio de viver esse contexto de vacinação”, aponta.
No entanto, no entendimento dela, João por estrear no Executivo agora vai ter “um pouco mais” de desafios e vai precisar de uma equipe técnica que o respalde. “Todo mundo vai querer ser prioridade, a política do Governo Federal é um pouco obtusa, mesmo com anúncio do plano (de vacinação) parece algo confuso, tem esse conflito da narrativa, essa questão de ser obrigatório ou de ser não obrigatório, tem uma série de protocolos”, argumenta.
Arthur Leandro, por sua vez, anota que para o primeiro ano de mandato, João Campos deve ter uma situação “que não é tão problemática até porque existe horizonte de disponibilização da vacina em algum momento do ano que vem e ele vai ser o prefeito do momento em que a vacinação vai ser ministrada”.
Economia
Outro ponto de destaque para 2021 é a economia. “A gente tem esse desafio do emprego e da renda de forma muito clara. E 2021 vai ser marcado pelo baixíssimo poder de investimento, de poder de fogo de fogo do Estado e do município para fazer os investimentos necessários. Os desafios não são triviais”, afirma Lapa.
Entretanto, a especialista ressalta que o Recife “tem uma casa mais ou menos arrumada” e que o Governo do Estado também termina mais um ano “de extrema dificuldade sem grandes rombos nas contas públicas” e conseguindo manter “o discurso de um alinhamento das contas públicas, que é importante politicamente para capitalizar uma popularidade”.
Entre as ações para amenizar o impacto da crise econômica, o governador Paulo Câmara anunciou no dia 16 de dezembro as novas regras para o Programa Crédito Popular. Entre as mudanças estão a redução da taxa de juros de 1,49% para 0,99% ao mês e a ampliação do prazo de carência para quatro meses. O valor do financiamento aumentará de até R$3 mil para até R$4 mil por beneficiário.
Desde seu lançamento, em outubro do ano passado, o programa já atendeu cerca de oito mil pessoas e injetou aproximadamente R$18 milhões na economia local. Já João Campos tem entre as suas principais promessas de campanha a versão municipal do programa de disponibilização de crédito. Ele, aliás, prometeu implantar a proposta, que vai conceder linhas de crédito de R$ 3 mil, com taxas de juros reduzidas, nos primeiros 90 dias de sua gestão.
Partido
Com a gestão do Estado e da Capital pernambucana, na análise de Arthur Leandro, o PSB tem como questão central “repensar a sua estratégia e ponderar sobre suas possibilidades”. O especialista ressalta que a sigla reduziu seu potencial eleitoral” em relação ao pleito de 2016 com a de 2020.
Segundo o cientista político, para Paulo Câmara, o desafio será encerrar o ciclo de oito anos e encontrar um nome que “desempenhe para o PSB o papel que o futuro prefeito João Campos desempenhou para a Prefeitura, que é exatamente ser mudança sendo continuidade, o que não é um tipo discurso fácil de construir para o eleitor” e que seja um nome de “agregação” entre as forças associadas ao partido.
Ainda de acordo com Arthur Leandro, é possível que o pleito de 2020 repercuta em 2022, mas que ainda vai haver o influxo das eleições nacionais. “O que o PSB for fazer vai implicar, em termos nacionais, naquilo que o PSB vai fazer em termos estaduais. No caso, o governo de Pernambuco é essencial para o PSB e o PSB não pode se dar ao luxo de perder a cadeira do Palácio das Princesas”, finalizou.
Na trajetória para 2022, o papel do prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), também será essencial visto que ele é a principal aposta da sigla para concorrer ao Governo.
Câmara
Na Câmara Municipal do Recife a Oposição continua sendo a minoria em 2021, lembra Arthur Leandro. “A composição da Câmara Municipal favorece o prefeito do PSB e a ligação de apoio para o prefeito tem maioria absoluta na Câmara. Então, além de ele efetivamente ser o prefeito, os partidos da base já permite a gravação de qualquer projeto na Casa. Então, no ponto de vista da construção das políticas públicas, não há indicativo que vai haver uma posição sistemática da bancada do PT, por exemplo”, explicou.
Já Lapa afirmou que a renovação de lideranças no campo de oposição ao PSB no nível estadual se repetiu em 2020.
“A gente tem uma Câmara com alguns quadros novos que podem trazer debates qualitativos e isso requer também uma capacidade de concertação política. Essa questão das alianças que ficaram feridas como, por exemplo, com o PT em 2020. Como é que isso vai se desenhar em 2021? Que a oposição (da Câmara) vai ganhar mais um integrante que é o PT, que é oposição no estado permanece com cargos no governo (estadual). Então, tudo isso é desafio para 2021”, disse.
Alepe
Diante do cenário atípico em virtude da pandemia, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) se viu no desafio de manter o rito da Casa para atender as necessidades dos municípios e o Estado. O primeiro secretário da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Clodoaldo Magalhães (PSB), destacou que a pauta mais importante de 2021 da Casa será o calendário vacinal.
“A gente precisa exigir do governo federal esse planejamento para um cronograma de vacinação que permite os estados e municípios vacinar toda população o mais rápido possível”, frisou.