Opinião: “Por um tempo de esperança”.

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Para a maioria das pessoas o único tempo que existe é o presente. O relógio simboliza seu domínio sobre passado e futuro. Muitas pessoas perderam o referencial histórico e não conseguem enxergar uma esperança que transcende o momento atual e se abre para o futuro.
 
O que esperar?

A modernidade trouxe para a pessoa humana uma vivência do tempo como busca febril e apressada em vista de empreendimentos e realizações. Mesmo a utopia de uma nova sociedade e outras utopias, nas últimas décadas, eram vividas como angústia e urgência de realizar-se neste tempo. Vivia-se a história como um trem acelerado, no qual não se podia perder tempo.

Hoje parece que se vislumbra algo de diferente na vivência do sentido do tempo. Há um ar de melancolia, de expectativa, e a história já não corre como um trem acelerado. “Há tempos, são os jovens que adoecem; há tempos, o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos; só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção”. Esta música de Renato Russo expressa a melancolia com que a juventude encara a vida e a história. Se, em anos passados, uma parcela da juventude vivia orientada pelo horizonte da mudança que logo aconteceria, os jovens de hoje preocupam-se em aproveitar o instante que estão vivendo. “O presente está como que contraído em si mesmo”, diz o teólogo Sebastián Politi.

O questionamento, diante do qual cada pessoa se coloca, parece ser: o que esperar no tempo? Foi assim com o povo de Deus, no Antigo Testamento, na sua esperança por libertação; no judaísmo, na esperança do Messias; nas comunidades do Apocalipse, na sua esperança teimosa de se livrar da opressão e em tantas expressões de esperança em todos os tempos.

Vale observar que é justamente nos tempos mais difíceis que a esperança encontra o seu lugar. A situação de exclusão e incertezas, que vivemos hoje, exige um lugar mais privilegiado para a esperança, que deixa de lado velhas e falsas certezas, acolhendo novidades que vêm do futuro, invadindo o presente, apontando caminhos.
 
Bendito o que vem

“Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas antigas passaram; eis que uma realidade nova apareceu” (2Cor 5,17). A morte e ressurreição de Jesus abrem um novo tempo.

O futuro, à primeira vista, é projeto que nasce do passado e do presente, e volta ao presente como realidade, em direção ao passado até perder-se. O futuro, no entanto, pode ser visto como fruto do que vem como novidade, como advento que porta um futuro realmente novo. O advento tem caráter transcendental e messiânico. Para os que estão na história, é sempre bendito o que vem ! – e não o que será. Trata-se, portanto, de um futuro constituído pelo que vem. O próprio Deus se encontra, não na evolução daquilo que se torna, mas na visitação e na revelação do que vem, provocando a evolução das criaturas e tornando bendito também aquilo que será.

Na história de Israel, a esperança se fundamenta na experiência das ações salvíficas de Javé, que é fiel ao seu povo. A aliança e a promessa são o fundamento da esperança, porque dão um sentido à história.
 
“Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra”

Nos profetas, a esperança ganha sentido de cumprimento definitivo. “Ai dos que vivem suspirando pelo Dia de Javé! Como será para vocês o Dia de Javé? Será trevas e não luz” (Am 5,18). Este juízo, no entanto, prepara uma situação nova para o povo. Uma esperança, uma nova criação: “Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra” (Is 65,17).

Enquanto para os profetas a esperança tem lugar na história, para a apocalíptica só há esperança na destruição desta história. “Os caminhos da história se fecham, mas Deus está próximo”, interpreta Politi.

O núcleo da esperança no Novo Testamento é a proximidade do Reino de Deus. “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia.” (Mc 1,15)

A esperança cristã, diante da realidade de exclusão que vivemos hoje, apoia-se numa entrega total à ação de Deus, numa esperança contra toda esperança.

A experiência humana, ensina a Bíblia, é uma experiência vivida no tempo. É possível olhar o tempo com esperança naquilo que traz felicidade. No entanto não existem atalhos para alcançar a felicidade, sem o esforço de cada dia. Importa caminhar solidários com os pequenos deste mundo, construindo fraternidade, celebrando e reconhecendo nestas práticas a ação misericordiosa e terna de Deus.
A palavra de Deus nos convida a recriar o mundo. Não há esperança na passividade, na acomodação com o momento presente. O cristão não vive somente o cotidiano, mas tem o início e o fim diante dos olhos.

Rui Antônio de Souzateólogo,

mestre em Comunicação Social