A velocidade dos acontecimentos e o noticiário das últimas horas, com a divulgação do novo Datafolha, que mostra o rápido derretimento da popularidade da presidente Dilma Rousseff, tornaram obsoleto o texto abaixo sobre um grande debate nacional para discutir a reforma política.
Seria como discutir medidas de prevenção de incêndio numa casa que está pegando fogo. Não há o menor clima para isso, nem interesse de parte a parte. Agora é guerra, ninguém quer saber de diálogo nem de debate.
Pelo furor mostrado nos comentários, aqui e em outros sítios que reproduziram o post do Balaio, a maioria dos leitores só quer uma coisa: o impeachment de Dilma.
Se depender do Congresso, do Judiciário e da maior parte da mídia, a presidente e o PT já perderam esta batalha, e não tem retorno. Segundo o Datafolha, só um em cada quatro brasileiros ainda a apoiam. Tudo agora é só uma questão de tempo. O resto é passado.
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Ao final desta medonha primeira semana de fevereiro, em que tanta coisa negativa aconteceu, elevando a temperatura política a um grau próximo da ebulição, está na hora de todo mundo baixar a bola e começar a pensar mais no Brasil. Quais são os planos, projetos, saídas que temos a oferecer? Estamos todos, afinal, no mesmo barco.
Está na hora de parar de falar em impeachment, como se esse fosse um evento previsto no calendário, a exemplo do Carnaval e do Natal. Vivemos ainda numa democracia e a presidente Dilma Rousseff acabou de ser reeleita para governar o país por mais quatro anos. As próximas eleições estão marcadas para 2018.
Está na hora de acabar com o clima de beligerância insana da campanha eleitoral, que acabou em outubro, colocou em lados opostos amigos, parentes e até casais, mas permanece vivo no Congresso Nacional, nos botecos e nas fábricas, nas ruas e nos saraus, nos almoços de domingo e nos estádios, em todo canto.
Está na hora de acabar com os donos da verdade e do futuro, que não ouvem ninguém e querem impor suas razões a todo mundo, sem admitir nenhuma discussão sobre os diferentes caminhos que temos pela frente e as causas que nos levaram ao atoleiro no deserto da desesperança, ameaçados de ficar sem água e sem luz, sem emprego e sem amanhã.
Está na hora de começarmos um grande diálogo nacional, em torno de uma causa comum, como a reforma política, que não pode ficar só na mão dos políticos. Onde está a grande sociedade civil que se mobilizou em torno da campanha das Diretas Já em 1984?
Está na hora de procurarmos interlocutores confiáveis dos dois lados da arena, pois é preciso admitir neste momento que é difícil saber o que é pior, se o governo ou o Congresso, a situação ou a oposição, acabar com esta história de nós contra eles.
Está na hora de reconhecermos que estamos sem alternativas, sem lideranças, sem ideias novas, sem referências, mas é preciso começar este diálogo por algum lugar, com o que temos aqui dentro, já que que não dá para buscarmos soluções prontas lá fora.
Está na hora de deixar as vaidades e as certezas de lado, olhar para a frente e não pelo retrovisor. Se Obama e Raul Castro conversaram e conseguiram chegar a um acordo entre Estados Unidos e Cuba, por que diabos Lula e FHC, ainda as nossas duas maiores lideranças políticas, não podem pelo menos tentar um diálogo em torno da reforma política, para dar o exemplo? Será necessário chamar o papa Francisco para servir de intermediário, como fizeram Castro e Obama?
Está na hora de pararmos de tratar adversários como inimigos, da política ao futebol, sermos mais generosos com os que pensam diferente, não dividirmos o mundo entre aliados incondicionais e traidores safados, termos a grandeza de admitir nossos próprios erros, em lugar de só busca-los nos outros.
Está na hora de voltarmos a acreditar nas nossas instituições, por mais que elas estejam em frangalhos, reconstruindo-as, pois todos temos responsabilidade pelo país que deixaremos para nossos filhos e netos.
Está na hora de todos fazermos alguma coisa nos limites da nossa capacidade e não nos deixarmos vencer pelo desânimo, em vez de ficarmos nos lamentando pelos cantos, buscando culpados, porque isso não vai nos trazer água de beber nem luz para iluminar nossas esperanças. (R7)