Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo
Na nova era em que entrou o Brasil, menino veste azul e menina veste rosa, sentenciou a ministra Damares Alves. A opinião esclarecida rapidamente se encarregou de apontar a inconsistência da asserção ministerial. Numa sociedade aberta, cada qual usa a cor que preferir, e o agente estatal que faz algo para mudar isso viola o beabá da democracia liberal.
Embora não tenha sido sua intenção, Damares acabou levantando uma questão interessante. Os signos, símbolos e metáforas que escolhemos para representar coisas e ideias são inteiramente arbitrários ou podem estar calcados em predisposições cerebrais?
Obviamente, há muito de aleatório no fato de designarmos como “cadeira” e não como “xepetec” o objeto que utilizamos para sentar. Existem, contudo, situações em que a relação entre significado e significante parece menos caprichosa.
O leitor dificilmente fala huambisa, a língua de uma tribo da Amazônia peruana. Ainda assim, se ouvir os nomes que ela dá para pássaros e peixes, distinguirá um do outro num número alto de vezes (perto de 60%). É que os nomes de pássaros “se parecem” com pássaros, e os de peixes, com peixes. Um exemplo: chunchuikit e máuts.
Esse tipo de achado não se limita a palavras onomatopeicas ou metáforas que se repetem em diferentes idiomas. Estudos mostram que existe até correlação entre cor e estado emocional. Primatas machos ficam mais agressivos diante do vermelho, cor que, nos órgãos sexuais femininos, indica fertilidade. Um trabalho sugere que times que usam uniforme vermelho ampliam em 2% a 3% sua chance de vitória.
E quanto ao azul para meninos e rosa para meninas? Há pesquisas que indicam que fêmeas de mamíferos têm leve predileção por cores mais quentes como vermelho e rosa. Mas é bobagem vincular isso a bebês, o que parece mais um modismo cultural. No Ocidente, ele inexistia até o fim do século 19.