Veja – O ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) se meteu em uma enrascada ao participar da gestação do que parecia ser o plano político perfeito para ele. França foi um dos arquitetos da ideia de tirar Geraldo Alckmin do PSDB e o principal incentivador para que ele participasse de uma disputa nacional. França só não contava que seu partido, o PSB, engataria conversas sérias para uma aliança com o PT. Tais conversas o colocam em rota de colisão com Fernando Haddad em uma disputa que poderá deixá-lo fora de seu objetivo maior, concorrer ao governo de São Paulo nas eleições deste ano.
Quando Alckmin se viu isolado no PSDB, após a derrota massacrante nas eleições presidenciais de 2018, França começou a articular a saída do tucano do partido. Alckmin buscava outro partido para concorrer ao governo do estado, mas França conseguiu convencê-lo de que era um nome maior do que o cargo de governador, que ocupou por quatro vezes. No fundo, havia um cálculo próprio de França de prejudicar João Doria, seu desafeto político, lançando Alckmin como concorrente nacional dentro do mesmo campo ideológico, com quem teria de disputar espaço, e ao mesmo tempo limpar o terreno para que França disputasse o governo sem a concorrência do antigo governador.
Mas enquanto essas tratativas ocorriam, um fator que França não colocou corretamente na equação começou a desequilibrar seu projeto. O PSB nacional passou a sondar e ser sondado pelo PT para a composição de uma aliança, na figura de uma federação partidária (uma nova forma de coligação prevista pelo TSE). E Fernando Haddad, com quem Alckmin sempre teve boa relação, passou a integrar essas conversas. França e Haddad passaram então a defender que o ex-governador fosse o vice de Lula.
Mas nem França nem Haddad abrem mão da candidatura ao governo. Cada um do seu lado passou a defender que o outro fosse candidato ao Senado, deixando a vaga de governador livre.
Para o PT, entretanto, nunca houve chance de Haddad não ser candidato ao governo de São Paulo. O ex-prefeito teria chegado a dizer para Lula, em um encontro no Nordeste, que França aceitaria a opção ao senado — o que o ex-governador afirma nunca ter feito.
Para piorar para França, fora de São Paulo, figuras importantes de seu partido, como os deputados federais Alessandro Molon e Marcelo Freixo, do Rio, e o governador do Maranhão, Flávio Dino, são entusiastas da aliança com Lula e Alckmin e passaram a defender, nos bastidores, que o acordo deveria sair.
Em outro estado em que também havia litígio entre as duas siglas para a indicação do candidato a governador, Pernambuco, parece ter chegado a um acordo: Lula se encontrou com o governador Paulo Câmara (PSB) na última quinta-feira, 4, e anunciou que o deputado Danilo Cabral (PSB) será candidato no estado, de forma que o PT vai retirar o nome do senador Humberto Costa (PT) da disputa.
Entre todos os envolvidos na negociação, era sabido que Pernambuco seria a moeda de troca mais valiosa para o PSB nacional esquecer a disputa em São Paulo. Ou seja, tudo indica que o PSB vai abrir mão de ter uma candidatura própria ao governo do estado.
Agora, França ainda participa de negociações intensas para salvar seu plano ou ver outras alternativas. Pesa a seu favor o fato que ele tem um peso grande nas decisões nacionais do PSB. No fim de semana passado, França chegou a conversar até com Boulos para discutir opções. Mas pode ter que se contentar com uma candidatura incerta ao Senado, contra nomes como José Luiz Datena e Janaína Paschoal.