De que o governo Dilma é um desastre, ninguém duvida. A vida de todos ficou pior, nos últimos meses, com desemprego crescente, custo de vida em ascensão, tarifas de serviços públicos e privados mais altas, inflação, redução de direitos trabalhistas, educação e saúde públicas no fundo do poço, naufrágio da pequena e média empresas e, acima de tudo, corrupção desvairada.
No entanto… No entanto, alguém viu um favelado, dos milhões espalhados pelo Rio de Janeiro, participando das manifestações de protesto contra o governo, ontem, na Avenida Atlântica? Em São Paulo, algum operário em protesto desfilou pela Avenida Paulista? Em Recife, camponeses ocuparam as margens do Capiberibe e do Beberibe?
Assim no resto do país, do interior de São Paulo às cidades do Nordeste, do Amazonas às fronteiras do Sul.
Quem ocupou as ruas foi a classe média. Gente bem vestida, mesmo sem paletó e gravata, como ninguém mais usa, senão de calções e camisetas da moda, coloridas, e pimpolhos bem alimentados, pela mão. Foram milhares, é claro, acolitados por carros de som e empunhando faixas e cartazes numa justa crítica à administração exangue e falida.
Mas povão, mesmo, zero. O país pobre, majoritário, ficou em casa, se é que tem casa, tanto faz se lhe faltando ânimo para pagar a passagem de ônibus e metrô para os centros urbanos e a orla marítima, ou por falta de motivação para aliar-se à classe média.
Por tudo isso, Dilma perdeu, já que a classe média forma a opinião pública e a opinião publicada, mas Dilma também ganhou, pois as manifestações de ontem não abalaram sua permanência no poder. Terão incomodado, apenas.