Por Silvio Costa*
Os partidos políticos em qualquer país do mundo têm como principal objetivo a busca pelo poder para, em tese, colocar em prática suas ideias e suas bandeiras. No processo eleitoral todos prometem um mundo melhor. Dizem que vão melhorar a qualidade de vida das pessoas. Seja no sistema parlamentarista ou presidencialista esse é o discurso. O fato é que quando chegam ao governo não conseguem governar sozinhos. Os sonhos dos que chegam ao poder levam um choque de realidade quando começam cozinhar o feijão.
Existe uma grande diferença entre o feijão e o sonho. No Brasil temos o presidencialismo de coalizão, que muitos chamam de política franciscana. O sonho é que tivéssemos 594 estadistas na Câmara e Senado. O feijão é que temos uma maioria formada por políticos que se elegeram prometendo levar recursos para as suas cidades, prometeram nomear aliados em cargos do executivo. Não existe nenhum crime nessas promessas. Este é o mundo real da política. Se o governo Bolsonaro quiser aprovar a reforma da previdência tem que começar respeitando o Congresso Nacional.
É preciso parar com essa conversa que o executivo só nomeia santo e o congresso só nomeia bandido. Essa cantilena de bancos de talentos, essa conversa de bancada temática. Tem que respeitar os partidos, respeitar os líderes. A maioria dos parlamentares está insatisfeita com o governo. Este filme eu já vi no episódio do impechament e sei como termina. Tenho plena convicção que grande parte dos congressistas sabe que a reforma da previdência é inexorável.
Eu tenho um sonho que um dia as relações entre o executivo e legislativo sejam estabelecidas no campo das ideias, talvez os meus netos ou bisnetos consigam escrever um artigo falando sobre isso. Mas, no momento a regra é clara: Não dá para aprovar a reforma e ao mesmo tempo mudar a lógica da política nacional.
*Silvio Costa é professor e ex-deputado federal