De camisa branca e crucifixo no peito, após ganhar de presente no palco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) focou o discurso que fez ontem (5), na Praça do Carmo, na força do Nordeste e no legado que deixou para a região e para o país. O ex-presidente acusou o governo Michel Temer (PMDB) de se parecer com uma “imobiliária”, por tentar se desfazer de todo o patrimônio nacional, incluindo a Eletrobras e a Chesf. “Parece que abriram uma imobiliária que não sabem governar. Deixem quem foi eleito pelo povo voltar”, alfinetou, diante de cerca de 30 mil pessoas, segundo os organizadores. Ainda numa explanação sobre todas as conquistas que fez durante sua gestão, ele lembrou que o país era respeitado internacionalmente e o povo tinha esperança, estava feliz, na época. “Agora, o Brasil esta virando uma república de bananas, com elites perversas governando esse país”.
Lula chegou ao evento por volta de 18h40. Foi recebido pela militância e a movimentação foi grande no local onde o petista e comitiva tiveram acesso ao palco. As pessoas se espremeram no gradil para tocar e falar com o ex-presidente. O evento foi transmitido ao vivo pelo Facebook de Lula. O ato foi marcado pela presença de muitos artistas, atores, poetas, cantores, gente que fazia parte da base petista. “Toda arte é política. A elite não suporta a democracia e defender lula é defender a nossa democracia”, afirmou Irandhir Santos, ator de filmes como Febre do rato, O Som ao redor, Aquarius, Tatuagem e Tropa de Elite 2.
Segundo Lula, que evitou lançar nomes de pré-candidatos ao governo de Pernambuco no discurso, o Nordeste precisou de toda a atenção do seu governo, porque não merecia ser a região com mais desempregos, mais retirantes e sobrevivendo de frentes de trabalho, sem esperança para o sertanejo. “Deus fez o Nordeste para que o povo do Nordeste tivesse tanto direito quanto qualquer outro (povo) do país”, declarou, sem deixar de citar as obras que trouxe para Pernambuco.
Continua…
O ato político não causou transtornos ao trânsito. A única interdição visível foi o bloqueio do acesso à avenida Dantas Barreto. Os veículos fizeram um desvio na avenida Nossa Senhora do Carmo.
Vestida de vermelho, a ex-presidente Dilma Rousseff voltou a falar sobre o fato de ter sido vítima do impeachment e recebeu o apoio de mulheres que estavam na plateia, as mesmas que entoaram músicas para ela e gritos de guerra. Dilma se disse extremamente agradecida pelo apoio que recebeu do sexo feminino ao longo do processo que culminou com sua cassação, especialmente pelo caráter “machista do golpe”. “Eu sofri dois golpes, o golpe da ditadura militar, que durante 21 anos tirou do Brasil a democracia e também nos legou um período muito triste, onde ocorreram torturas e prisões. Pensávamos que tinha sido enterrado, mas voltou a acontecer”.
Dilma agradeceu, em nome do deputado federal Silvio Costa (PTdoB), aos deputados federais pernambucanos que votaram contra o impeachment, num sinal de que ela ainda não digeriu a postura adotada pelo PSB do estado durante o processo. “A gente supunha que esse país não ia sofrer outra vez um golpe de estado. Durante o impeachment, muitas pessoas demonstraram sua coragem e demonstraram, acima de tudo, o compromisso com a democracia. Queria mencionar, por uma questão de Justiça, agradecer ao deputado Silvio Costa. Em nome dele, agradeço toda bancada federal aqui do estado que votou contra o impeachment, num gesto de defesa e coragem. Nós sabemos que tem uma etapa do golpe que culmina com a eleição de 2018. Querem impedir que possamos escolher o presidente que está no coração de todos os brasileiros”, declarou a petista, que, pela primeira vez, participou da Caravana da Cidadania, iniciada no dia 17 de agosto.
A concentração na Praça do Carmo começou por volta das 16h, com discursos recheados com críticas ao presidente Michel Temer (PMDB), e apresentações culturais. Muitos estudantes participaram do ato político, que estava lotado de bandeiras vermelhas. “Nós reconhecemos a importância do que Lula já fez pelo Brasil. Apesar de haver divergências dentro do grupo, reconhecemos a importância dele. Somos contra esse governo golpista”, disse Hanna Elizie, que faz parte do grupo Contestação, da Faculdade de Direito do Recife.
O frei Aloísio Fragoso, conhecido nos movimentos sociais, fez um discurso emotivo para homenagear o petista antes mesmo de ele chegar ao palco. “Companheiro Lula, cuide muito de sua saúde, porque você não é mais Luiz Inácio Lula da Silva. Você incorporou a alma do povo brasileiro. E agora você é nós, por isso você não pode adoecer para não enfraquecer a luta do seu povo. Você é, reconhecidamente, o único líder popular do Brasil”.
Para o presidente da CUT, Carlos Veras, “a caravana resgata a esperança para enfrentar os golpistas”. Veras foi ovacionado pela plateia que gritava fora Temer.
O evento contou com a participação da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e do senador Lindnberg Farias, além do deputado federal Silvio Costa (PTdoB), de Luciana Santos (PCdoB), entre outros.
Luciana Santos defendeu Dilma Rousseff, afirmando que ela reduziu a taxa de juros no Brasil e deu continuidade ao governo de Lula, que trouxe para o estado a Hemobras, a fábrica da Jeep, e a refinaria Abreu e Lima e as universidades. Sobre Dilma, Luciana lembrou da conquista do Pronatec, e do Fieis. Por isso que as elites desse país nunca se conformaram”.
Segundo o senador Humberto Costa, as grandes obras iniciadas por Lula em Pernambuco foram paralisadas no estado e, agora, o governo federal quer tirar o direito do povo brasileiro. “Estamos aqui denunciando que, quanto mais eles tentarem cortar o direito do povo, mais nós vamos resistir. Pernambuco não se dobra”, disse ele, complementando que fizeram o impeachment de Dilma para dar posse “ao maior bandido que já passou pela história desse país”. “Eles não se enganem: tudo que eles estão fazendo agora, nós vamos revogar para o Brasil voltar a ser grande, para que nosso povo tenha orgulho de ser brasileiro”, declarou.
Lula já percorreu Sergipe, Bahia e Alagoas. Ele vai amanhã para Brasília Teimosa, bairro que considera como um dos seus principais redutos eleitorais, e depois segue para a Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão. (Diário de Pernambuco)