‘O 8 de Janeiro precisa ser lembrado para não ser esquecido’, diz Maria Arraes

Por: Renan Franza/Diário de Pernambuco – Deputada federal eleita para o seu primeiro mandato, Maria Arraes (SD) não poupou críticas à governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), durante entrevista concedida com exclusividade ao Diario de Pernambuco. A parlamentar avaliou o início da gestão tucana como “desastroso”, alcunha à qual credita ao período de transição entre o atual governo e o do ex-governador Paulo Câmara, ex-PSB.
Estreante no Congresso Nacional, a deputada firmou posicionamento por pautas pela igualdade de gênero e no combate à violência contra a mulher. Maria ainda defendeu a decisão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em suspender a implementação do Novo Ensino Médio, e demonstrou firmeza ao criticar os atos do 8 de Janeiro: “esse dia precisa ser lembrado para não ser esquecido”. 
Avaliação do governo Raquel Lyra
“Ela é muito mais blogueira do que governadora. Ela não gerencia as crises do estado na mesma proporção em que posta nas suas redes sociais. Nada foi feito, muito pelo contrário. O problema começou antes da gestão, a partir do momento em que Raquel não fez uma transição. Em uma forma de demonizar a política, exonerou todos os comissionados, não fez um relatório aos pernambucanos sobre a situação do estado. Os problemas de Pernambuco não podem ser escondidos por um filtro do Instagram. Não se faz política pública com hashtags.”
Crise no Sassepe
“Quando uma governadora ou governador assume um estado do tamanho de Pernambuco, recebe-se um relatório com toda a situação dos órgãos públicos. Dentro disso é feito uma avaliação e metas são traçadas. Evidentemente que é uma dívida do antigo governo, mas era uma dívida que já era do conhecimento de Raquel, que não fez uma transição, o que acabou maximizando ainda mais o problema por uma falta de gerenciamento.” 
Eleições e ambiente na Câmara Federal
“Fiquei muito feliz de ser deputada junto com o presidente Lula. A gente sabe que o Brasil vinha de um desgoverno de quatro anos e que a nossa democracia foi atingida, assim como a população LGBTQIA+, os negros, nós, mulheres. Viemos de um atraso muito grande, mas estamos em um governo com uma vontade muito grande de recuperar o espaço que já tínhamos, entregar o Brasil de volta para o povo. Temos trabalhado em Brasília para articular medidas que beneficiam o povo. Viemos de uma eleição extremamente polarizada, e a Câmara reflete justamente isso, uma divisão parlamentar muito grande.”
Projetos
“Já apresentei diversos projetos que penso que melhoram, um pouco que seja, a qualidade de vida do povo brasileiro e pernambucano. Um deles foi o ‘Respeite o Não’, baseado no que aconteceu na Espanha com o jogador Daniel Alves. O jogador foi preso justamente por que as casas noturnas seguem um protocolo para casos de assédio, com segurança e acolhimento para a vítima, câmeras preservadas, identificação do acusado, encaminhamento da vítima para um hospital ou delegacia. São medidas que evitam e protegem a violência contra a mulher e trouxemos aqui para o Brasil.
Outro projeto muito importante, foi o do laudo permanente para doenças de caráter irreversível, como por exemplo o autismo. Estamos sempre atentos às notícias do dia a dia, para usá-las de formas que beneficiem a população. Saiu na imprensa a negativa do governador Tarcísio (de Freitas), que negou essa medida em São Paulo. A repetição de um laudo nesses casos é uma coisa que não faz o menor sentido.
Também cobrei a aplicação do teste do pezinho, que já é obrigatório no SUS, seja aplicado também nas redes estaduais e municipais de saúde. Queremos identificar quais problemas estão fazendo com que os testes não sejam realizados.”
Imprensa
“A mídia tem um papel fundamental e que nos últimos quatro anos foi demonizado. A gente entende a importância de estar sempre atento ao que acontece no mundo através do jornalismo sério, porque ele relata justamente o que acontece no dia a dia. Não podemos tentar refletir no Congresso uma coisa que foge à realidade do povo brasileiro, então os meios de comunicação nos proporcionam meios de trabalhar de uma maneira muito mais eficiente.”
Diálogo com a bancada estadual
“Ainda não estamos em diálogo para pensar em medidas para Pernambuco. Ainda não conversamos sobre as emendas de bancadas e as obras que pretendemos fazer, já que as verbas para esse tipo de ação só costumam ser liberadas no segundo semestre do ano. O que tivemos até o momento foram algumas reuniões com os ministérios, como por exemplo, com José Múcio, da Defesa, onde falamos sobre a construção da Escola de Sargentos. Então estamos sempre dialogando quando se trata de grandes eventos no nosso estado, mas a questão das obras específicas deve ficar mesmo para a metade do ano.” 
Arcabouço Fiscal 
“O que temos visto na Câmara, é que as discussões estão ficando muito além do que realmente importa e das pautas fundamentais e decisivas na mudança do nosso país. Os debates têm sido pautados por questões partidárias e afinidade ideológica. Por exemplo, se eu que sou uma deputada da situação, vice-líder do governo, quero criar uma frente parlamentar para discutir um determinado assunto, como por exemplo a Transnordestina, o pessoal da direita radical não assina. Então as miudezas têm se dado até nesse sentido. Estão tentando impedir novas regras, novas medidas.

O que eu tenho visto no atual governo é uma vontade muito grande de dialogar. Tanto Lula quanto os ministros têm conversado para diminuir as dúvidas e trazer esclarecimentos. Nesse contexto, a Câmara tem discutido o Arcabouço Fiscal com muita animosidade, como todas as outras pautas. No fim das contas, acaba sendo mais uma cortina de fumaça para causar um problema, mas acabará sendo aprovado, porque todo mundo tem ciência das contas, e sabe que o atual teto de gastos é inviável no nosso país.”

Novo Ensino Médio
“Foi feita durante o governo do ex-presidente Michel Temer, e teve continuidade durante o governo Bolsonaro, mas sem nenhum diálogo com quem mais sente os efeitos dessa reforma, ou seja, professores e alunos. A suspensão é necessária, tanto que os trabalhadores da educação, que estão na linha de frente pediram uma revogação dessa política ao presidente Lula. Acredito que foi uma decisão acertadíssima, pois o governo tem que ser feito na base do diálogo”. “Uma consulta pública é mais do que necessária nesse caso.”
8 de Janeiro
“A investigação tem sido feita desde o momento em que foram feitos os ataques terroristas. As instituições têm buscado culpados desde o primeiro momento, não só daqueles que participaram dos atos, quebrando e depredando o patrimônio público, mas também daqueles que financiaram e investiram neste ataque terrorista. Há alguns dias atrás, tivemos os 59 anos do golpe militar, que durante os quatro anos do governo Bolsonaro foi tratado como algo a ser celebrado. Foi um governo que destruiu a nossa ideia de democracia, destruiu a ideia de país democrático, contestou as instituições e tentou interferir nos outros poderes.

O que aconteceu no dia 8 de janeiro foi resultado de uma política de quatro anos de destruição da nossa memória democrática, do problema que o Golpe Militar trouxe ao país. Meu avô Miguel Arraes, que era governador de Pernambuco, foi exilado durante esse período. Então quando temos um governo que comemora datas como essa, acontece o que aconteceu, então esse dia precisa ser lembrado para não ser esquecido.”