Os temores pelo surgimento de uma nova onda de Covid-19 voltaram a ganhar corpo na Alemanha, que registra um aumento no número de diagnósticos positivos, surtos em casas de repouso e uma campanha de vacinação estagnada, enquanto o país espera pela formação de um novo governo.
A chanceler Angela Merkel, que está nos últimos dias de seu mandato e ocupa a chefia do Executivo interinamente, até que o social-democrata Olaf Scholz forme um novo governo, deu voz a essa preocupação no último fim de semana.
“Estou muito preocupada com a evolução atual nos hospitais, e o número de mortes […] deveria preocupar a todos nós”, declarou a chanceler durante a cúpula do G20 em Roma, na Itália.
Merkel lamentou que o relaxamento de muitas das restrições nos últimos meses levou novamente a “um certo desleixo”.
Fluxo de casos
A epidemia volta a assombrar o país, que tanto sofreu nas ondas anteriores, com 9.658 casos de contágio registrados nesta segunda-feira (1º), 3.085 a mais que há uma semana. Além disso, a taxa de incidência dos últimos sete dias está em 154,8 para cada 100.000 habitantes. Na segunda-feira passada, esse índice era de 110,1, segundo o instituto de vigilância sanitária Robert Koch.
As hospitalizações de pacientes graves de Covid-19 cresceram 40% em sete dias, segundo a Sociedade Alemã de Hospitais (DKG, na sigla em alemão), a maioria delas envolvendo indivíduos não vacinados. Em relação à ocupação das unidades de cuidados intensivos, o aumento de casos é de 15%.
Além disso, alguns focos de contágio têm surgido, em especial as residências para idosos aposentados.
Em um estabelecimento no estado federado de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental, 66 dos 83 residentes foram infectados e 14 faleceram depois de uma onda de contágios, e tudo indica que a origem do surto foi uma festa organizada no local no início de outubro.
Apenas 6% dos residentes da casa de repouso não estavam vacinados, mas um de cada três trabalhadores não tinha sido vacinado, o que, sem dúvida, acelerou as contaminações.
Merkel, ‘muito triste’
Diante desse aumento de casos, Merkel advertiu que seria necessário tomar medidas rapidamente. O governo se diz “pronto para dialogar” com os estados federados, que controlam os sistemas de saúde no país, afirmou nesta segunda uma porta-voz da equipe de Merkel.
Além disso, esses casos trazem novamente à tona o debate sobre a vacinação obrigatória do pessoal de saúde, algo que conta com a aprovação de 72% da população, segundo uma pesquisa da emissora pública ZDF. As autoridades, contudo, temem a imposição da obrigatoriedade por razões históricas: o medo de que sejam acusadas de obstruir as liberdades públicas.
Cerca de 85% dos maiores de 60 anos na Alemanha concluíram o ciclo completo de vacinação, mas a eficácia das vacinas tende a diminuir com o tempo.
Por outro lado, Merkel afirmou que está “muito triste” porque “dois ou três milhões de alemães com mais de 60 anos ainda não se vacinaram”.