Por Renata Bezerra de Melo/Folha de Pernambuco
São Paulo é o Estado definido, hoje, no PSB, como “problema mais emblemático” do partido no bojo das costuras regionais que vêm se dando, visando a uma aliança com o PT para corrida presidencial. O detalhe é que, longe dos holofotes, um movimento silencioso vem ganhando ressonância nas coxias: uma eventual filiação do ex-governador Geraldo Alckmin ao PSB.
Na cúpula socialista, essa travessia não é descartada. Segundo lideranças da legenda que preferem não se identificar, isso interessaria ao ex-presidente Lula e caberia ao PSB aceitar ou não essa “oferta”.
Não tem martelo batido, mas certo, no PSB, é que essa construção nacional não faria o partido abrir mão de uma candidatura de Márcio França em São Paulo. Ao UOL, no último sábado, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, sublinhou que “não há hipótese de retirar a candidatura” de Márcio, que, segundo o dirigente, “é candidato para valer mesmo”.
Nesse caso, socialistas que acompanham as movimentações não detalham como uma eventual filiação de Alckmin ao PSB poderia ajudar a desembaraçar a situação no cenário paulista. Apenas admitem, em conversas reservadas, que essa travessia de Alckmin para o PSB é do interesse de Lula, o que levaria o PT agir como ponte no processo.
Coincidência ou não, ontem, o ex-presidente petista, ainda que não confirme sua candidatura à presidência da República, não descartou que Alckmin possa vir a ser candidato a vice em uma chapa encabeçada por ele.
“Tenho uma extraordinária relação de respeito com o Alckmin. Fui presidente quando ele foi governador. Conversamos muito. Não há nada que aconteceu entre mim e o Alckmin que não possa, sabe, ser reconciliado.
Não há”, disse Lula dois dias depois de o próprio Alckmin ter iniciado a série de acenos. Sobre a possibilidade de ser candidato a vice de Lula, Geraldo Alckmin se disse “honrado” com a hipótese e realçou que Lula “tem apreço pela democracia”. O caminho de Alckmin vinha sendo pavimentado rumo ao PSD, presidido nacionalmento por Gilberto Kassab, que também tem diálogo aberto com o PT, o que pode tornar o papel de Lula como intermediador indispensável, conforme tem realçado as lideranças do PSB.
“Vivo e se bulindo”
O deputado federal Tadeu Alencar, à coluna, lembra que Geraldo Alckmin já teve muita aproximação com o PSB no período em que Eduardo Campos se lançou na corrida pela presidência. Considera que o ex-governador paulista “pode não ter um tempero maior”, mas pondera que “não se pode descartar nenhuma possibilidade num jogo onde Bolsonaro está vivo e se bulindo”.
Prioridades > Tadeu emenda: “A tarefa primeira é derrotar Bolsonaro”. Na avaliação dele, esse arranjo de partidos “não é nenhuma aberração” e Alckmin “tem atributos de sobra para isso”.
Ponto de vista > Como a coluna cantara a pedra, socialistas consideram que uma aliança nacional com o PT, eximiria o partido de dar espaço na chapa ao partido em Pernambuco. O presidente estadual do PT, Doriel Barros, reagiu, defendendo protagonismo do PT, inclusive em Pernambuco, prioridade do PSB.
Sem foco > Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ao UOL, no último sábado, alfinetou o apetite do PT: “Quando você vai para uma olimpíada, você vai para mirar o ouro, a prata ou o bronze. Se mirar as três medalhas, você pode ficar sem nenhuma”.