O Dia dos Professores, celebrado nesta quinta-feira (15), era para ser comemorativo. Mas os números não são favoráveis. Agressões que adoecem e afastam professores das salas de aula são recorrentes. Com 12,5%, o País tem a maior média de educadores agredidos ou ameaçados pelos alunos do Mundo, segundo pesquisa realizada no ano passado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No Estado, um estudo do Sindicato dos Trabalhadores em Educação em Pernambuco (Sintepe) com 981 docentes aponta que 24% deles (235) pediram licença nos últimos dois anos. Os problemas em sala de aula – agressões de estudantes ou dos pais – respondem por 36% dos pedidos de afastamento. Na rede pública do Recife foram dez registros em 2014.
O presidente do Sintepe, Fernando Melo, acredita que há uma desestruturação familiar crescente no Estado, o que acarreta sérias consequências nas escolas públicas. “Se o adolescente desrespeita os pais dentro de casa, dificilmente ele respeitará o professor”, disse. Na maioria das vezes, ressaltou, quando um professor é violentado fisicamente por um aluno, prefere ficar no anonimato.
Em alguns casos, observou Melo, até se afasta da escola. O trauma e o constrangimento são mais fortes do que a vontade de denunciar a agressão aos órgãos competentes. A coragem de delatar é ofuscada, o que dá lugar à depressão e a outras doenças psicossomáticas. Mas não foi o que aconteceu com a professora Shirley Stefânia, 32 anos, que não se calou em relação à agressão feita por um aluno de 14 anos.
“Era uma brincadeira em sala de aula. E ele perdeu. Quando vi que estava alterado, me aproximei para conversar. Para orientar que é importante saber ganhar e perder. Foi o suficiente para ele me agredir”, lembrou a professora. Ela não se intimidou. Acionou o Conselho Tutelar para realizar um acompanhamento psicológico com o aluno. “Ele melhorou o comportamento. Mas acredito que se tivesse me calado só teria piorado. É importante tomar uma atitude, não aceitar as agressões”, defendeu.
A professora Jaqueline Vasconcelos, 50 anos, que ensinou por dez anos em duas escolas estaduais, contou que as ameaças foram muitas. Em uma delas, o aluno garantiu que ia incendiar seu carro. “A maioria dos alunos não quer estudar. Quando exigimos disciplina e comportamento, é sinal verde para as agressões”, disse. Para a educadora, é inapropriado ter medo. “Quando eles me agrediam verbalmente e diziam que iam me matar, fingia que não era comigo. Não comprovava o receio. E é o que eles querem”, disse.
Ela lamentou a falta de apoio da instituição escolar. “Não adiantava denunciar. Só quem tem razão é o aluno. O professor sempre está errado”. Questionada se queria voltar ao ambiente escolar, a resposta foi breve: “De jeito nenhum”. A Secretaria de Educação e Esportes do Estado informou, em nota, que situações que envolvem professor e estudante são tratadas no âmbito escolar e ficam sob a responsabilidade da direção e corpo docente da unidade de ensino.
Segundo a pasta, o professor tem à sua disposição o Núcleo de Atenção ao Servidor (NAS) da Secretaria de Educação do Estado (SEE). O NAS é responsável por ações de prevenção de agravos e promoção da saúde dos professores e demais trabalhadores da Educação. Atualmente existem 18 núcleos do NAS. (Folha de Pernambuco)