Década de 90, Rua Doralice Menezes e Silva – Boa Vista – João Alfredo – PE.
Apenas uma serralharia, 3 irmãos, negros, poderia ser um lugar simples; 3 pessoas comuns, mas não é: Hélio (Preto), Damião e Ednaldo Epifânio ou NEGO DI.
Quem já teve o privilégio de entrar ou passar na Serralharia de Nego Di entende o que falo.
Pancadas, barulho, esmeril ligado, gatos miando, uma máquina de solda que não para.
Entre pancadas, soldas e limalhas de ferro: alguém cantando. Um sorriso gostoso, gargalhadas que contagiava qualquer um. E como se não bastasse ainda arriscava uns passos.
Assim era Ednaldo Epifânio de Moura, conhecido popularmente como Nego Di ou simplesmente Di.
Um homem de 61 anos que a vida me deu para ensinar o que é um amigo.
Não é um amiguinho qualquer é um AMIGO de verdade escrito com todas as letras maiúsculas.
Não vou ser irresponsável de elencar aqui adjetivos que o descreva, não, não. As virtudes que ele carregava eram bem maior do que o universo da língua portuguesa.
Pode até parecer exagero, eu sei, mas é por ele que simplesmente estou vivo.
Deus usou Nego Di para me manter vivo. Nas minhas crises depressivas ele não apenas me consolava, como arrebanhava todos aqueles que podiam me ajudar. Ele se preocupava comigo. Era pra ele que eu corria para dividir meus conflitos, minha dores, minhas alegrias, as paqueras que eu tinha. Ele me conhecia como ninguém. Bastava me olhar e sabia do que eu sentia.
Quantas vezes no intervalo do almoço sentávamos na calçada em frente a serralharia e choramos juntos. Muitas vezes eu, ele (Nego Di) e Soares (Pretinho).
Aí chega o dia 23/12/18, 8:00h da manhã, Hospital São Salvador, se aproxima um Senhor de semblante simpático e ao ser indagado pelo estado de saúde de Nego Di, vítima de um Infarto, simplesmente para e arregala os olhos quando comento.
“O Senhor acredita Sr Alexandre que lá em João Alfredo já surgiu um comentário que Ednaldo Epifânio (Nego Di) morreu?”
Eu, meu Primo (Genival Júnior) e 2 de seus filhos: Didier e Dênis.
Nesse momento Sr Alexandre para, arregala bem os olhos e fica pálido. Eu sem entender, parei naquele momento.
Sr Alexandre, de forma muito discreta, me convida para entrar no Hospital e fala assustado: “É ele mesmo, ele entrou em óbito não faz 5 minutos”.
Até nisso Nego Di foi único, pois enquanto Nego Di partia, ouvíamos boas músicas, brincávamos, comemorando a melhora que ele teve na noite seguinte. Desta forma, o caminho ao hospital foi celebrando a melhora de Nego Di.
Perdoem-me a Medicina, toda equipe de profissionais do Hospital São Salvador, do Hospital do Servidor de PE, da Unidade Mista Joana Amélia Cavalcanti, me perdoe Sr Alexandre. mas EDNALDO EPIFÂNIO DE MOURA não morreu.
Talvez a Medicina não entenda, é possível, mas nós que conhecemos Nego Di sabemos que ele não morreu.
Basta lembrar suas risadas gostosas, seus dentes brancos, escancarando uma alegria que parecia não caber nele.
Basta lembrar suas respostas rápidas sempre escorregadias, escapava sempre ao cercos da conversas, sempre tinha saída para tudo.
Basta lembrar dos encontros dele com sua esposa Zefa Brito ou Zefa de Biina, ela que sempre o chamava de Ednaldo. Algumas vezes Zefa braba que só a mulesta e Nego Di calado. Quando Zefa dizia: “Fala Ednaldo”, doida pra brigar ele de imediato dizia: “Você tá certa”.
O Nego era o “bute”!
Basta lembrar de um passado não muito longe, da dupla imbatível: Nego Di & Chico do Queijo. Quem conseguia conversar com eles dois e não ter um sorriso arrancado?
Basta lembrar que essa dupla teve uma substituição forçada pela vida e no lugar de Chico do Queijo entrou Valmir do Toyota. Substituição essa que feriu profundamente o peito de Nego Di, pelo acidente de veículo que Chico do Queijo sofreu e o levou para uma cadeira de rodas.
Chico como bom combatente que é, não se entregou e vez ou outra ia visitar Nego Di, depois que virou cadeirante. Nego Di não tinha forças pra visitar Chico do Queijo na sua cadeira de rodas, e chorava toda vez que tocava no assunto.
Basta lembrar nas viagens diárias entre João Alfredo e Surubim da dupla inseparável: NEGO DI & VALMIR, era muita resenha, sem contar com DIEGO.
“Ah! Bandiiiiiido!”, era assim que Diego o saudava.
Basta lembrar das conversas entre os compadres NEGO DI & SOARES. Di sempre botava pra lascar no compadre, kkkk
Basta lembrar das vezes que Nego Di desabafando certas situações, antes de terminar ouvia seu irmão Preto começando a assobiar, era uma gargalhada só.
Basta lembrar da confusão diária entre Nego Di e Antônio Manteiga, era tanta zuada que até parecia de verdade.
Basta lembrar do Lava Jato de Rubens, Léo, Marivaldo e Panjas, embora essa turma chegou no finzinho, mas logo entrou na safadeza do Pastor Ednaldo
“Bota o brilho nela! Deixa ela bem brilhosa!”
Basta lembrar dos gritos sempre que Vando passava com seu carro de mão: “Meu irmão!” que em seguida era acompanhado de uma esculhambação.
Basta lembrar de Sr Reinaldo do Cartório que sempre ao terminar a caminhada matinal, tinha por obrigação passar na Serralharia de Nego Di, que ironicamente apelidamos de “Igreja”.
Basta lembrar dos gritos de Nego Di ao ver Edilson de Nane acordando (muitas vezes de ressaca) gritava Didiiiiiii!
Isso é só um tiquim de inúmeros argumentos que me faz acreditar que Nego Di não morreu.
A morte no caso de Nego Di não funciona, o máximo que Dona Morte pode fazer é transportá-lo para outro endereço, mas morrer mesmo, com Nego Di não funcionou.
A gente se bate por aí meu “pastor” como o chamava, haja vista que apelidamos a Serralharia de “Igreja”.
Vai fazendo a frente por aí Negão.
Logo na porta solta, uma daquelas gargalhadas que só você sabia dar.
Caso achem pouco, começa a cantar aqueles sambas de Clara Nunes que você me ensinou a ouvir, dá aquela sambadinha com aquele suingue que você tinha, que tá tudo certo.
Enquanto a gente não se vê, fico por aqui traquinando com as letrinhas, agora mais do que nunca pois o mundo precisa conhecer quem foi NEGO DI.
De uma coisa eu tenho certeza e olhe que aprendi com você que:
“Com a cabeça do teimoso só quem pode é o pescoço.”
Portanto morro teimando:
Nego Di não morreu, continua vivo!
A única coisa que me incomoda é a pergunta:
“Pra quem vou mostrar em primeira mão meus textos”?