Marcionila Teixeira/Diário de Pernambuco
O odor da lavagem de porco está na memória olfativa de Arnaldo Xavier. Era adolescente quando, a pedido da mãe, batia de casa em casa em busca dos restos de comida em fermentação. O serviço somente acabava quando a lata enchia. Nesses momentos, o conteúdo transbordava, sujava seus dedos, seus pés, sua roupa.
Machucava sua autoestima. Muito pobre, a mãe de Arnaldo criava porcos para vender e sustentar a família de dois filhos e uma filha. Outras duas meninas já tinham sido entregues para famílias conhecidas criarem. Primeiro fruto do relacionamento entre um oficial de justiça e funcionário da Prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe com uma dona de casa, Arnaldo acompanhou o empobrecimento familiar após a morte do pai, quando tinha cinco anos.
A pobreza de Arnaldo podia ser calculada pelos bens de consumo inexistentes em sua casa. TV ele assistia na calçada do vizinho, quando a janela estava aberta. “Se a gente fizesse barulho ele não deixava a gente ficar”, lembra. Geladeira para congelar os picolés vendidos pelo menino sob sol do Agreste somente havia na casa da amiga da mãe. Naquela época, a vida era feita de muito pouco. Quase nada.
Certo dia, um famoso empresário da área de tecidos do município convidou a mãe de Arnaldo para uma conversa. Comoveu-se com a história da mulher de 29 anos, viúva, sem renda e com três filhos para criar. Entregou nas mãos da desconhecida dois fardos de tecidos variados. A contragosto ela aceitou. Dizia não ter como pagar o produto. Foi quando a história de Arnaldo começou a dar uma reviravolta.
Continua…