O guitarrista e produtor musical pernambucano Paulo Rafael faleceu na madrugada desta segunda-feira (23), aos 66 anos por complicações de saúde causadas por um câncer de fígado. Ele ficou conhecido na cena musical por integrar a banda Ave Sangria, que marcou a história do rock psicodélico brasileiro, e por ter um papel fundamental na definição do som de Alceu Valença, trazendo a força do rock para canções influenciadas pela música regional nordestina, ao longo de mais de 40 anos de parceria.
Natural de Caruaru, no Agreste pernambucano, Paulo Rafael começou sua carreira na década de 1970 em Recife com a banda Ave Sangria. Logo se tornou um dos principais instrumentistas do rock psicodélico local, no movimento contra-cultural conhecido como Udigrudi, e do gênero no país inteiro. Na época, a banda lançou apenas um disco homônimo, de 1974, que foi censurado pela ditadura. A sua sonoridade, porém, foi ganhando novos fãs a cada geração, levando o grupo a se reencontrar para gravar um novo lançamento em 2019, intitulado Vendavais.
Além da banda, Paulo também participou de outros projetos aclamados da cena psicodélica, como o álbum Paêbirú (1975), de Lula Côrtes e Zé Ramalho, e produziu álbuns solo como sua estreia Caruá (1976), com Zé da Flauta e Lenine (ainda percussionista na época). Contudo, a parceria mais famosa de sua carreira foi com o músico e cantor Alceu Valença, com o qual tocou e produziu vários dos seus discos. Os dois se conheceram em Olinda, enquanto Paulo tocava com o Ave na rua, em frente à Igreja da Misericórdia. Após mais alguns encontros, Alceu convenceu os pais de Paulo a deixarem ele viajar para o Rio de Janeiro para tocarem em um festival. Desde então, a troca de influências se tornou rotina entre os dois, Paulo trazendo a força da guitarra e do rock, e Alceu colocando a tradição violeira regional.
Em 2014, Alceu deu um depoimento falando sobre o papel de Paulo em sua carreira. “Paulo Rafael também é da minha região e, naquele primeiro momento, a geração dele negava um pouco as músicas das nossas raízes. Ele descobriu com a gente que não precisava negar as influências do rock, que também poderia se voltar para o regional. Tornou-se um dos guitarristas mais originais do Brasil e conhece a música do interior, dos violeiros e aboiadores. Isso os guitarristas não conhecem, pois sabem é de balada, não de toada; do rock, e não do xote. Ele é supercriativo, tem sonoridade e bom gosto inacreditáveis. Originalíssimo. É uma referência e um grande amigo. Trabalhamos juntos na definição do meu som – ele teve um papel fundamental nisso.”
O músico faleceu no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, deixando esposa, filha e neta. A família informa que o velório será realizado na mesma cidade, no Cemitério da Penitência, às 11h15. A cerimônia de cremação será às 13h15.