Por Magno Martins, de Brasília/Folha de Pernambuco – Nesta entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, rompe o silêncio sobre as constantes fake news dando conta de que estaria demissionário ou que entregaria o cargo. Com a ressalva de que não sabe de onde isso tem partido, desabafa: “Não sei quem tem tanto interesse na minha saída do Governo. Já li essas especulações pelo menos umas três vezes. Estou aqui tranquilo”.
Múcio ressalta que está na Defesa para cumprir uma missão delegada por Lula, sem interferência de nenhuma agremiação partidária. “Eu não tenho filiação partidária, não tenho projeto político. Meu projeto é ajudar o presidente da República, de quem eu sou amigo e grato pelos gestos que teve comigo ao longo da vida. E essa nossa amizade só tende a solidificar”.
E acrescenta: “Não é este Ministério que aumenta ou diminui a nossa relação. Eu aqui ou fora tenho por ele a mesma admiração. Mas de vez em quando sai que eu entreguei o lugar, que eu entreguei o cargo, que me tiraram. Pode acreditar que quando eu estiver pensando nisso, eu aviso”.
No próximo dia 10, no Recife, tem a posse do novo comandante Militar do Nordeste, mas Lula marcou uma reunião ministerial para o mesmo dia. Será adiada?
No próximo dia 10, o presidente da República Lula quer fazer uma reunião com todo o Ministério. São 37 ministros para avaliação dos 100 dias de Governo. Se isso acontecer, não vou poder ir. Gostaria muito de estar na passagem do general Richard Fernandes Nunes, uma pessoa que gosto muito, mas também não posso faltar a reunião ministerial.
Encontrei o senhor aqui, hoje, muito mais tranquilo. Reina agora a paz absoluta nos quartéis?
Sim. Deus ajudou e os amigos. Muita paciência. Realmente aqui está tranquilo. O Ministério da Defesa, as Forças Armadas todas com a consciência de que são instituições de Estado Brasileiro e estão prontas para ajudar o Governo.
Foi difícil essa operação de apaziguamento?
Não foi fácil. Nesses embates, todos querem ter razão. Mas, com o tempo, que é o senhor da razão, vamos completar cem dias e parece que aqueles problemas de início, o mês de janeiro, faz mais tempo. E dá para notar um ambiente de absoluta tranquilidade.
O senhor foi o primeiro ministro escolhido por Lula e antes de tomar posse o senhor já começou a trabalhar nessa direção, não foi?
Eu passei o mês de dezembro todo em Brasília, conversando com os ministros de Bolsonaro, tentando fazer uma transição que alguns não aceitavam. Conversando com os militares da reserva que têm um papel muito importante, porque militar não se aposenta, ele vai para reserva, fica à disposição, mas opina, ouve. De maneira que hoje nós estamos em uma fase tranquila. Ainda nesta semana eu disse ao presidente da República que é um Ministério que não tem dado mais problemas.
E a operação que foi montada em Brasília para a chegada do ex-presidente Bolsonaro, com a cidade tomada por policiais, até helicóptero no ar, o ministério da Defesa teve alguma participação nisso?
Se eu disser que não, estaria mentindo. Evidentemente, a gente não poderia ter outra surpresa. Mas o propósito principal foi proteger o ex-presidente, proteger o presidente, proteger a sociedade e proteger principalmente a democracia. A gente precisa ter cuidado com as coisas e fazer com que os arbitrários que muitas vezes usam a política para cometer seus desatinos mais uma vez voltassem a depredar o patrimônio público.
Mas o Governo recebeu alguma informação preliminar de que estava chegando ônibus, algum movimento estranho?
Não. Desta vez não. Estava tudo tranquilo.
E por que proibiram Bolsonaro de sair de carro aberto do aeroporto até a sede do Partido Liberal (PL)?
Acho que não houve essa proibição, isso foi mais especulação. Apenas as forças estavam presentes para proteger a sociedade. Pelo aeroporto tem passageiros de todos os lados. De maneira que foi uma coisa tranquila, mas é melhor prevenir do que depois estar arrependido porque não fazer nada.
Como deveria ser tratado Bolsonaro nessa volta ao Brasil, como principal líder da oposição?
Ele mesmo já disse que não quer ser o líder da oposição. Eu acho que com preocupação. Nós temos quatro anos pela frente e temos adversários mais fortes, como desemprego, a fome, esses são verdadeiramente os grandes adversários para quem está no poder.
O senhor quer dizer que ao invés de estar criando situações constrangedoras para o ex-presidente, o Governo deveria cuidar da área social?
Quero dizer que não havia propósito de criar situação constrangedora, pelo contrário, estive com o presidente da República, que estava tranquilo, conversei com alguns ministros, eles estavam tranquilos. Não houve nenhum constrangimento, não houve nenhuma operação acintosa. Ele desembarcou como um passageiro normal, porque ele é um ex-presidente. A sociedade brasileira tem vencedores e vencidos, além de inimigos comuns, que são as injustiças sociais que ainda existem.
Houve uma declaração do ministro Alexandre Padilha, dando a impressão de comemorar o depoimento que Bolsonaro vai dar, na próxima semana, na PF sobre a questão das joias, logo após o seu retorno ao Brasil. É como se o PT quisesse criar esse clima para o ex-presidente?
Os dois lados têm. Quando era ao contrário também houve. Isso é da política, da democracia. A gente tem que defender o direito até de dizer as coisas até que a gente não concorde.
Essa questão das joias pode complicar a vida de Bolsonaro?
Tudo que não pode ser dito, não devia ter sido feito. É uma regra que eu tenho. A política requer muito que as coisas sejam feitas à luz do sol, para que todo mundo fale, diga. É melhor dizer uma coisa que a princípio crie problema, mas que você não precise justificar por que você disse. De maneira que eu acho que aquilo precisa ser explicado. O Tribunal de Contas pediu explicações, o Ministério Público também. É da democracia.
E no episódio de Sergio Moro, o senhor não acha que o presidente falou demais e falou o que não devia?
Isso é ele que pode avaliar. Cada um tem o seu temperamento. Ele é um líder político dizendo o que pensa e cada um deve avaliar o que deve dizer ou não.
Mas o ministro Flávio Dino foi tão contundente em relação à transparência da operação da Polícia Federal, não foi?
O ministro Flávio Dino eu considero um dos melhores ministros do governo. Se alguém pode condená-lo é porque ele é transparente, mas é melhor do que omitir. Ele é responsável pela segurança, pela Polícia Federal, que tem feito um grande trabalho à frente do Ministério da Justiça e nós combinamos sempre as coisas, cada um dentro do seu estilo.
De onde é que saem essas especulações de que o senhor está querendo deixar o Governo?
Eu sei lá. Eu acho que já teve essa especulação umas três vezes. Estou aqui tranquilo. Eu não tenho filiação partidária, não tenho projeto político. Meu projeto é ajudar o presidente da República, de quem eu sou amigo e grato pelos gestos que teve comigo ao longo da vida. E essa nossa amizade só tende a solidificar. E não é este Ministério que aumenta ou diminui a nossa relação. Eu aqui ou fora tenho por ele a mesma admiração. Mas de vez em quando sai que eu entreguei o lugar, que eu entreguei o cargo, que me tiraram. Pode acreditar que quando eu estiver pensando nisso, eu aviso.
Até o deputado André Janones fica pregando nas redes sociais que o senhor entregou…
Não. Ele não afirmou que eu entreguei, mas que todo o PT queria o meu cargo. O meu cargo é do presidente da República. Não fui indicado por ninguém para estar no Ministério da Defesa. Eu não venho indicado por grupo, não tenho voto no Congresso. Me colocar aqui não dá voto. O presidente sabe por que me trouxe. Meu cargo vive permanentemente à disposição dele. Eu vou fazer 75 anos, de maneira que esse negócio de projeto político é coisa do passado.
E se o senhor quiser sair por uma questão pessoal, terá cumprido a sua missão, não é?
Eu vim para apaziguar as relações das Forças Armadas com o Governo. E você vê o clima aqui em Brasília. Nesses últimos 90 dias eu não tenho uma declaração de militar em jornal, nem em blog, redes sociais. E tudo que eu faço aqui é combinado com os comandantes e com todos.