O ministro Cid Gomes (Educação) afirmou que, sob o deputado Eduardo Cunha, “a direção da Câmara será um problema grave para o Brasil.” Disse que todas forças políticas que têm “compromissos sociais” se opuseram à eleição dele para a presidência da Casa. E Lamentou: “Tem lá uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”.
Cid Gomes fez essas declarações há seis dias, na última sexta-feira, na cidade de Belém. Deu-se durante uma visita do ministro à Universidade Federal do Pará. Ele se reuniu com professores e reitores de universidades federais paraenses. Encontrou-se também com servidores e alunos que o recepcionaram com um protesto contra o corte de verbas destinadas às instituições federais de ensino.
Num dos encontros, a pretexto de defender a gestão de Dilma Rousseff, Cid Gomes atacou o Legislativo. “A presidenta Dilma, ela é só presidente da República. Não ache que um presidente da República tem o poder de tudo, não. Tu acha que essa eleição para a presidência da Câmara aconteceu segundo a vontade dela?”, indagou o ministro a certa altura.
O próprio Cid Gomes respondeu. Antes, disse que falava em caráter pessoal, não como auxiliar da presidente —como se fosse possível distinguir um personagem do outro. “Não é o ministro que está falando”, disse. Cid suspeitava que estivesse sendo gravado. “Tem gente gravando aí. Eu sei que sempre tem gente gravando.” Mas não deteve a língua. “Eu acho que a direção da Câmara atualmente será um problema grave para o Brasil.”
Um dos presentes insinuou que Eduardo Cunha elegera-se com o aval do governo. E Cid Gomes: “Não foi não, querido, não foi não. Tudo o que é força política mais realmente comprometida, mais identificada com esse esforço que ampliou a oferta de ensino superior no Brasil e que tem compromissos sociais, que reduziu a miséria ou extinguiu a miséria, todas essas pessoas estiveram contra a eleição de quem foi eleito lá.”
O ministro prosseguiu: “Agora, as coisas são assim, tá certo? As coisas são assim. Tem lá uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais, aprovarem as emendas impositivas, para quem possa… Com todo respeito também, porque às vezes os caras querem mandar dinheiro para algum lugar, mas é uma guerra, é uma guerra…”
As declarações de Cid Gomes ecoam uma frase pronunciada por Lula em setembro de 1993. Nessa época, ele era pré-candidato à eleição presidencial de 1994. Percorria os Estados da Amazônia em campanha. Declarou o seguinte: “Há no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns trezentos picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”. Eleito presidente duas eleições depois, Lula aliou-se aos que chamava de “picaretas”.
Trazidas à luz num instante em que Dilma enfrenta uma crise de relacionamento com seus aliados no Congresso, as declarações de Cid Gomes terão o efeito de um galão de gasolina derramado sobre labaredas. Primeiro porque o PMDB de Eduardo Cunha já vinha acusando o ministro da Educação de conspirar contra o PMDB em combinação com Dilma.
Segundo porque, ao incluir entre os achacadores os adeptos das emendas orçamentárias “impositivas”, Cid Gomes atacou praticamente todo o Congresso. Inclusive os parlamentares do seu partido, o Pros, que votaram a favor da emenda constitucional que obriga o governo a executar as despesas enfiadas pelos congressistas no Orçamento da União. (Blog do Josias)