Trinta e três anos recém-completados, uma graduação, duas pós (e uma terceira encaminhada), o recifense Milton veio a este mundo para desmerecer o lugar comum, para fugir de qualquer cruel normatividade subdesenvolvida. A Carteira de Trabalho com o registro de “gari caçamba” e o salário de pouco mais de R$ 400 viraram lembrança de uma época de pouca perspectiva, mas que o impulsionou a ser quem é. Olhava para os colegas – cinco, sete, 12 anos de empresa – e só conseguia pensar em não ser o mesmo. Foi estudar e, literalmente, não parou mais. Faculdade e especialização depois, nesta quinta (20), ele defende sua tese de mestrado no Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); em agosto, começa o doutorado na mesma instituição no qual passou com nota máxima. Aí poderá assinar doutor Milton Vinícius Morais de Lima.
Da casa no bairro do Jordão Alto, Zona Sul do Recife, Milton leva todos seus miltons consigo nessa história. O Milton-órfão, o Milton-gari, o Milton-andarilho, o Milton-milton. Nessa sequência, segue a história. Aos 20, perdeu a mãe, do coração: “Foi ali” e, quando voltou pra casa, recebeu a notícia. “O mundo podia acabar que eu já estava no lucro. Foi muita dor”, diz, sobre aquele dia. Anos depois, morando em Rondônia, no Norte, desempregado, num aperto danado, chegou numa agência e a única coisa que lhe estenderam foi a tal vaga de gari. “Gari caçamba”. Recolheu lixo, entulho, bicho morto, limpou esgoto. “O mais difícil era correr atrás do caminhão e os riscos do lixão. É ladrão, traficante, tudo o que você imaginar”, lembra. Mas sabia que estava ali de passagem, juntou seis meses de salário, economizou o tanto que deu e somou seis meses de mensalidades. Deixou o emprego e entrou na faculdade.
Continua…