João chora. Chora sem parar, molhado de suor, mesmo usando apenas uma fraldinha descartável. Parece inchado. Chora aos berros na varanda da casa de quatro cômodos onde vive com a mãe, o pai e cinco irmãos, na Praia de Pau Amarelo, em Paulista, na região metropolitana de Recife. O calor é escaldante sob as telhas de amianto. Não dá para saber se o choro é por calor, fome, fralda suja ou dor. Já sabem, porém, como aquietá-lo. É só dar o remédio: a dose de Rivotril.
Ele tem microcefalia causada pelo zika, vírus transmitido pelo Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e da chikungunya. Os primeiros casos da zika foram oficialmente notificados há um ano em abril de 2015, na Bahia. Entre setembro e outubro, gestantes que tiveram a virose começaram a dar à luz bebês com cabeças menores. Dezenas. Centenas. Segundo o Ministério da Saúde, 1.113 casos de má-formação foram confirmados – 189 têm relação com o zika. Nesta semana, o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA afirmou que “não restam dúvidas” da causa.
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