FolhaPress
Quase metade (48%) dos consumidores afirma que não precisa de um banco para pagar seus boletos. Os dados são de um levantamento feito pela consultoria Consumoteca, com 2.000 pessoas de todo o país e de diferentes classes sociais.
Ainda segundo o estudo, considerando as diferentes faixas etárias, a percepção de independência de um banco para o pagamento de contas está mais presente entre os consumidores de 40 a 54 anos (conhecidos como geração X), com 50% das afirmações. Entre os millenials (de 25 a 39 anos) e os consumidores da geração Z (entre 18 e 24 anos), essa percepção cai para 47%.
A pesquisa foi feita às vésperas do lançamento do Pix, novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central que possibilitará mandar dinheiro para outra pessoa ou empresa de maneira instantânea e independente de qual for a instituição de recebimento.
As transações poderão ser feitas 24 horas por dia, sete dias por semana, e acontecerão de maneira gratuita para pessoas físicas e microempreendedores individuais. Segundo o antropólogo e sócio da Consumoteca, Michel Alcoforado, os dados da pesquisa apontam que o consumidor brasileiro não está necessariamente preocupado com o fato de estar ou não usando um banco para fazer transações ou pagamentos.
“O cliente quer transacionar o dinheiro, fazer pagamentos e resolver os seus problemas, independente de estar ou não usando um banco para isso. E esse é um movimento que tende a se intensificar ainda mais com a chegada do Pix, uma vez que o novo sistema vai desmaterializar a fronteira do que é ou não uma instituição financeira”, afirmou à reportagem.
“O Pix é o primeiro passo para consolidar outros participantes do mercado, as grandes varejistas por exemplo, como marketplaces de produtos financeiros e até mesmo para impulsionar um movimento muito forte de carteiras digitais.”
Os consumidores, no entanto, ainda sentem receio quando o assunto é transferência de dinheiro. Segundo o levantamento, apenas 38% dos entrevistados afirmam que não precisam de um banco para fazer esse tipo de transação.
“O grande desafio ainda é nas transferências, principalmente porque são necessárias diversas informações, como CPF, banco, agência, nome e conta corrente. Isso sem contar o custo em torno de R$ 10 para quem não paga o pacote de serviços que a instituição oferece”, afirmou Alcoforado.
Outro estudo da Consumoteca, feito a pedido do Carrefour Brasil, aponta que entre aqueles que se declaram desbancarizados -ou seja, que não possuem conta corrente ou poupança em nenhuma instituição financeira-, 26% afirmam que as cobranças de taxas e de juros são os principais motivos que os mantêm fora do sistema financeiro.
O medo de se endividar aparece em segundo lugar, com 18% das respostas, seguido por problemas com serviços bancários no passado, ausência de renda para movimentação e a preferência pela utilização do dinheiro em espécie, todos com 16%.
O presidente do Banco Carrefour, Carlos Mauad, também afirma que o Pix tende a encurtar o caminho dos desbancarizados rumo ao sistema financeiro.
“Um dos principais benefícios do novo modelo é a diminuição de intermediários dentro de uma mesma transação e, consequentemente, a redução de custos para realizá-la, o que atende diretamente às necessidades desse consumidor”, afirmou.
Ainda segundo a pesquisa feita a pedido da varejista, quase metade (48%) dos entrevistados também afirmou que topariam ter conta em alguma instituição financeira caso tivessem a possibilidade de obter crédito pré-aprovado ou caso não precisassem pagar nenhuma taxa.
Para Mauad, do Carrefour, a chegada do Pix e do open banking -previsto para estar completamente implementado ao final de 2021- são oportunidades para todo o varejo, seja no crédito ou no consumo. “Exatamente pelo aumento da oferta e pela redução de custos e taxas, a tendência é que o crédito também se torne mais acessível com a chegada no novo modelo de pagamentos. Os dados mostram que há uma fatia dos brasileiros disposta a retornar ao sistema financeiro e cabe ao mercado compreender e criar soluções que verdadeiramente ajudem esse público”, afirmou.
“O Pix gera uma transformação maior da sociedade porque tudo vira transação cotidiana. Não é mais apenas a bancarização das pessoas, mas é a bancarização de tudo. Da vendinha da esquina, da loja de roupa e até do meu vizinho. Isso com certeza facilita a aproximação ao sistema financeiro dos 45 milhões de desbancarizados do país”, disse Alcoforado, da Consumoteca.