Na segunda reunião sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiram manter a taxa básica de juros da economia nacional, a Selic, em 13,75% ao ano. O anúncio foi feito ontem (22), ao final do segundo dia do encontro, contrariando o que o presidente queria: a diminuição do valor da taxa.
Para o governo Lula, o atual patamar da Selic é visto como um entrave para o crescimento econômico do país. O Copom disse que a decisão é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”. As discussões começaram na manhã da terça-feira (21).
A decisão confirma as expectativas de economistas e agentes do mercado de que o BC não iria ceder à pressão do Executivo, mantendo a taxa em seu maior nível desde 2017, pelo menos por mais 45 dias. Desde agosto de 2022, a Selic está em 13,75%, segundo o banco, visando trazer a inflação de volta para o centro da meta.
No comunicado em que anunciam a continuidade dos 13,75%, os membros do Copom afirmam que, desde a última reunião, “o ambiente externo se deteriorou”, e citam os acontecimentos recentes envolvendo bancos dos Estados Unidos (Silicon Valley Bank) e Europa (Credit Suisse). Segundo o comitê, esses episódios “elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”.
Quanto ao cenário interno, o Copom cita a desaceleração da atividade econômica e a permanência da inflação acima do intervalo necessário para cumprir a meta.
A perspectiva geral de que o BC ainda vá manter os juros básicos em nível elevado por mais algum tempo foram confirmadas. Isso está relacionado com o fato de as expectativas para a inflação no ano superarem o teto da meta. A nova projeção para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) é que ele chegue ao fim de 2023 na casa dos 6%.
Diz o documento divulgado após a reunião: “as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência [a partir da pesquisa Focus] elevaram-se para 5,8% em 2023, e para 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,2% em 2023, e 5,3% em 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, cuja projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,8%”.
Segundo o comitê, a volatilidade do mercado financeiro e as projeções de inflação para os próximos anos longe das metas pedem “maior atenção na condução da política monetária”.
“O Comitê avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”.
Aumentar os juros é um instrumento de política monetária para tentar reduzir a inflação. Na teoria, os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir, e estimulam novas alternativas de investimento.
Por isso, o Copom justificou a decisão desta quarta da seguinte maneira: “Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a.. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
As reuniões do Copom sempre são divididas em duas sessões, a primeira é voltada a apresentações e análises da atual conjuntura econômica do país, e a segunda, destinada à decisão sobre a Taxa Selic, informa o BC.
Integram o comitê o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e os diretores da instituição. Chefes de alguns departamentos do banco participam da primeira sessão da reunião.