O grande problema que o governador Eduardo Campos (PSB) enfrentou ontem, ao comunicar aos aliados sua escolha por Paulo Câmara para sucedê-lo, chama-se João Lyra Neto. O vice-governador não aceitou a composição da chapa e tentou, até o último momento modificá-la, em uma conversa que durou três horas. Após ser preterido, ele esperava que ao menos o correligionário atendesse ao seu apelo de colocar o ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho na cabeça da chapa e deslocasse o secretário de Fazenda para o Senado. Mas o governador não lhe deu ouvidos.
Lyra chegou ao Palácio às 16h de ontem, demonstrando tranquilidade. Ainda na calçada, questionado pela reportagem da Folha de Pernambuco, ele não quis comentar a decisão de Campos. “Não fui comunicado de nada ainda. Vim aqui porque o governador me chamou para conversar”, despistou, prometendo dar maiores informações ao final do encontro. Às 19h20, o vice-governador deixou o local em seu carro oficial, aparentando irritação, sem atender os apelos da Imprensa. Mesmo entre aliados próximos, a noite foi de silêncio sobre o conteúdo conversado e sobre a reação do caruaruense.
O visível desconforto de Lyra, inclusive, motivou boatos, no começo da noite, sobre a desistência de Bezerra à vaga ao Senado. Isso porque, nos bastidores, dizem que entre os dois haveria um acordo: caso um fosse preterido, declararia apoio ao outro. Por isso o ex-ministro sentiu-se desconfortável em aceitar de pronto e publicamente a vaga que lhe foi oferecida. Por sua vez, o vice-governador, vendo que havia perdido a batalha, pediu ao governador que postergasse o anúncio para a próxima segunda-feira, na esperança de ganhar mais uns dias para convencê-lo a mudar de ideia.
Muitos correligionários tentaram convencer o governador a manter a data do anúncio para hoje, deixando para depois as tentativas de entendimento como vice-governador. Mas Eduardo não quis parecer intransigente. No entanto, uma declaração de Campos, feita ontem a um socialista de seu núcleo duro, indica que a conversa pode não ter sido muito amistosa. “Lyra tem que entender que não era nem para ele ter sido vice-governador pela segunda vez (na chapa estadual de 2010). Ele é um sortudo”, teria disparado o governador ao correligionário, que, por motivos óbvios, não quis se identificar.(Blog da Folha)