Na entrevista coletiva, Lula exaltou as urnas eletrônicas, classificadas por ele como um orgulho nacional pela tecnologia e rapidez na totalização dos votos. O presidente eleito evitou comentar sobre o relatório da auditoria das Forças Armadas, divulgado ontem, mas frisou que Bolsonaro deve aceitar o resultado do pleito. “Cabe a um presidente reconhecer sua derrota. Cabe a ele fazer uma reflexão e se preparar para, daqui a uns anos, concorrer outra vez. Assim é o jogo democrático. É respeitar a decisão da maioria do povo brasileiro”, destacou.
Questionado sobre as manifestações antidemocráticas que paralisaram rodovias federais, Lula apontou a necessidade de identificar os financiadores desses atos. “Essas pessoas que estão protestando, sinceramente, não têm por que protestar. Deviam dar graças a Deus pela diferença ter sido menor que aquilo que nós merecíamos ter de votos. E eu acho que é preciso detectar quem é que está financiando esses protestos que não têm pé nem cabeça. Ofensas a autoridades, ameaças de fechamento, agressão verbal”, listou.
Lula também afirmou que pretende manter uma relação cordial com o Congresso e com o Centrão. “O governante tem de ter clareza que tem que lidar com as pessoas que foram eleitas. Temos de convencer das coisas importantes para o país. Não tem que olhar o Congresso e ‘ah, o Centrão’. O Centrão é um conjunto de partidos que temos que conversar e tentar convencer das nossas propostas”, minimizou. “Não enxergo dentro da Câmara, dentro do Senado, essa coisa de Centrão. Eu enxergo deputados que foram eleitos e que, portanto, nós vamos ter de conversar com eles para garantir as coisas que serão necessárias para melhorar a vida do povo brasileiro.”
Ele prometeu trabalhar “24 horas por dia” e aproveitou para dar alfinetadas em Bolsonaro. “Nós voltamos a governar o país. Não há tempo para vingança, não há tempo para raiva, não há tempo para ódio. O tempo é de governar. Eu não vou trabalhar apenas 3, 4 horas por dia. Vou trabalhar um dia inteiro, porque nós temos uma dívida a resgatar com o povo pobre deste país”, destacou. “Temos uma dívida a resgatar com milhões de crianças que durante a pandemia não tiveram a oportunidade de estudar, e essas crianças estão muito atrasadas em relação àquelas que puderam estudar.” Sobre a formação dos ministérios, o presidente eleito afirmou que só começará a pensar no assunto depois que voltar da COP27, a conferência do clima realizada no Egito.
Supremo
O futuro chefe do Executivo teve agenda cheia em Brasília. Antes do encontro no TSE, ele se reuniu com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, e com os outros ministros da Corte. As pautas foram a transição de governo e a importância da harmonia entre as instituições democráticas. Por meio de nota, o tribunal disse que os magistrados apontaram “preocupações para o Brasil, como a necessidade de investimentos em educação e meio ambiente” e que o presidente eleito “afirmou que atuará pela reconstrução da união” do país.
Também participaram do encontro a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann; o senador Randolfe Rodrigues; o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), o deputado federal eleito Paulo Teixeira (PT-SP), o ex-ministro Aloizio Mercadante, os advogados Eugênio Aragão e Cristiano Zanin e o procurador da Fazenda Nacional Jorge Messias.