Diário de Pernambuco
No dia em que Pernambuco ultrapassou a marca de 5 mil registros oficiais de mortes pela Covid-19, a dona de casa Cilene Lima, 37 anos, recebeu uma ligação confirmando que o filho mais velho, Tiago José, 21, havia vencido a doença e teria alta do Hospital Provisório Recife 3. Ela saiu de Bonito, no Agreste do estado, nesta sexta-feira (3), para reencontrar o primogênito, no bairro da Imbiribeira, Zona Sul da capital pernambucana. Desde que Tiago nasceu, eles nunca haviam passado tanto tempo distantes. Foram 13 dias, contados no calendário com ansiedade e preenchidos por chamadas de vídeo feitas pela equipe que cuidava do paciente.
Tiago é autista e tem crises de epilepsia. Sempre precisou dos cuidados constantes da mãe. “Ele é o meu anjo. Depende de mim para tudo, como tomar banho, comer, tomar sol. Depois de tanto tempo longe, o nosso reencontro foi lindo. É um sentimento que não tem explicação”, conta Cilene. Os primeiros sintomas de Tiago surgiram em meados de junho. A febre insistente e falta de ar preocuparam a mãe, que o levou ao Hospital Doutor Alberto Oliveira. De lá, o paciente foi transferido para o hospital de campanha do Recife. “Como ele não fala, a nossa preocupação foi dobrada, mas confortava o meu coração vê-lo pelas chamadas de vídeo”, diz Cilene.
Ao todo, são 42.456 pessoas curadas da Covid-19 no estado. Desse total, 9.785 foram casos graves e 32.671 casos leves. Nesta sexta-feira, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) também confirmou 1.243 novos casos da Covid-19 em Pernambuco. Do total, 1.114 (90%) são casos leves, ou seja, pacientes que não demandaram internamento hospitalar e que estavam na fase final da doença ou já curados. Outros 129 (10%) tiveram Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). Agora, Pernambuco totaliza 62.362 casos confirmados, sendo 19.908 graves e 42.454 leves.
Ao confirmar laboratorialmente mais 100 óbitos – sendo 52 de pacientes do sexo masculino e 48 do sexo feminino -, o estado ultrapassou a marca de 5 mil mortes. Agora, Pernambuco totaliza 5.068 óbitos pela doença. As mortes registradas no boletim de hoje aconteceram entre 4 de maio e 2 de julho. Do total, 67 mortes (77%) ocorreram entre o dia 4 de maio e 29 de junho. As outras 33 (33%) ocorreram nos últimos três dias. Os pacientes tinham idades entre 25 e 105 anos, além de um bebê com dois meses do sexo masculino.
Futuro
Após uma quarentena mais rígida na Região Metropolitana do Recife, que aconteceu entre os dias 16 e 31 de maio, e em curso no Agreste do estado, até este domingo (5); o médico infectologista Filipe Prohaska acredita que o processo de reabertura só dará certo se contar com o compromisso de todos os envolvidos. “Precisamos de protocolos rigorosos para o público e para quem presta o serviço. O segredo (para o sucesso da reabertura) é a necessidade de um tripé: os prestadores de serviço, a população e o estado. Cabe a quem presta os serviços obedecer os protocolos. À população, a consciência e a continuidade de medidas como uso de máscara e higiene das mãos. Ao estado, cabe não só o planejamento e orientação, mas também a fiscalização”, pontua.
Essas medidas são fundamentais para uma convivência com o novo coronavírus até que uma vacina chegue às populações. Na visão de Prohaska, isso só deve acontecer no Brasil entre fevereiro e março de 2021. “Vacinas já estão sendo testadas, mas entre os testes e a produção em massa, há um longo caminho. Acredito que entre novembro e dezembro deste ano já exista, mas o hemisfério Norte, por causa do inverno, deve ser priorizado. Entre fevereiro e março, acredito que teremos no Brasil”, diz.
O grande dilema em relação ao futuro seria, de acordo com o infectologista, a existência de novas ondas da doença. “A grande questão são as próximas ondas, como uma segunda, terceira, quarta, além do risco de interiorização da doença, como estamos vendo. Esses são os grandes desafios para os próximos meses”, destaca. O cenário ideal, segundo ele, seria a realização de testagem em massa de pacientes sintomáticos para promover o isolamento deles. “Essa seria a forma mais efetiva de enfrentar esse ‘novo normal’, sem falar de profilaxia, como uso de máscaras e higiene das mãos”, defende.
Sem a testagem em massa, diz Prohaska, não é possível entender com clareza os dados. “Um grande problema do Brasil é que não temos a real dimensão dos casos. Sabemos sobre as mortes, mas não temos o número de casos. Se soubéssemos, teríamos uma ideia melhor sobre esse número de 5 mil mortes de Pernambuco. Não há dúvidas de que são muitas mortes, mas não sabemos se está dentro do ‘aceitável’ ou acima do esperado. Só fizemos muitos testes em pacientes graves e nos profissionais da linha de frente”, pontua.
Linha do tempo: o novo coronavírus em Pernambuco
25 de fevereiro – O primeiro caso suspeito do novo coronavírus passa a ser investigado em Pernambuco, quando uma paciente de 51 anos deu entrada no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc). O caso foi descartado posteriormente.
12 de março – Os dois primeiros casos da doença são confirmados no estado. Nessa data, outros 12 estavam em investigação e 30 haviam sido descartados. Os pacientes eram um casal, uma mulher de 66 anos e um homem de 71, com histórico de viagem para a Itália. A mãe da mulher, com 97 anos, também foi contaminada. Depois, os três ficaram curados.
17 de março – O primeiro caso de transmissão comunitária, ou seja, quando não é possível estabelecer de onde partiu o contágio, é confirmado no estado. Na data, eram 19 confirmações, 250 casos em investigação e 85 descartados.
18 de março – Aulas são suspensas em Pernambuco. Todas as escolas, universidades e demais estabelecimentos de ensino das redes pública e privada devem suspender o funcionamento a partir desta data. No último dia 30 de junho, o estado anunciou que a suspensão de aulas foi prorrogada até 31 de julho.
25 de março – Luiz Rodrigues, de 85 anos, é o paciente do primeiro óbito registrado pelo novo coronavírus no estado. Ele morava no bairro de Areias, Zona Oeste do Recife. A morte foi a primeira do Nordeste.
1º de abril – Pernambuco inicia o mês de abril, então considerado decisivo no enfrentamento à doença, com 95 casos confirmados e oito mortes. A taxa de ocupação dos leitos hospitalares era de 49%.
3 de abril – O governo de Pernambuco determina fechamento de praias e parques em todo o estado. Após várias prorrogações do decreto de fechamento, os espaços públicos só foram reabertos na Região Metropolitana do Recife no dia 20 de junho.
10 de maio – O estado supera a marca de 1 mil mortes pela Covid-19. Taxa global de ocupação de leitos estava em 91%, sendo de 97% nas UTIs.
16 de maio – Quarentena entra em vigor em cinco cidades: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e São Lourenço da Mata. Os municípios concentravam 75% dos casos confirmados e 68% dos óbitos da Covid-19 em Pernambuco.
28 de maio – Estado confirma que tem plano de abertura gradual da atividade econômica com previsão de duração de 11 semanas.
29 de maio – O governo de Pernambuco anuncia que a quarentena rígida nas cinco cidades não seria prorrogada, mas que o uso de máscara continuaria obrigatório.
31 de maio – Chega ao fim a quarentena mais rígida nas cinco cidades da Região Metropolitana do Recife. Apesar do fim do período de lockdown, em todo o território pernambucano, permaneceu obrigatório o uso de máscaras para quem precisasse sair de casa. Também permanecia vedado o acesso a praia, calçadões e parques e o funcionamento de shoppings, lojas e prestadores de serviço que não se enquadrassem como atividades essenciais.
1º de junho – Lojas de material de construção de delivery de serviços não-essenciais são autorizados a funcionar.
2 de junho – Governo do estado detalha o “Plano de Monitoramento e Convivência com a Covid-19”, que aponta a retomada gradual e planejada das atividades econômicas do estado.
8 de junho – Construção civil e comércio atacadista retomam as atividades em Pernambuco. No caso da construção, era restrita a operação com até 50% da capacidade no horário das 9h às 18h.
15 de junho – Liberado o funcionamento de lojas de varejo com até 200 m². Salões de beleza e serviços de estética também foram autorizados a funcionar. As medidas não valiam para 85 municípios que fazem parte das regiões de saúde de Palmares, Goiana, Caruaru e Garanhuns.
22 de junho – Os shoppings do estado voltam a funcionar. A retomada, após 93 dias de operação suspensa, deve obedecer algumas restrições, como 30% da capacidade do centro de compra e horário de funcionamento das 12h às 20h. Além dos centros de compras, o comércio de rua, de bairro e centro, também estava autorizado a reabrir totalmente, com a entrada das lojas acima de 200 m². Já a construção civil, que vinha funcionando com 50% dos funcionários, foi autorizada a voltar com 100% dos trabalhadores.
23 de junho – Governo de Pernambuco decreta isolamento mais rígido em Caruaru e Bezerros, região que passou a concentrar maior número de casos.
26 de junho – Tem início o isolamento mais rígido no Agreste do estado, que vai durar até 5 de julho.
29 de junho – Pernambuco ultrapassa a marca de 40 mil curados da Covid-19. Agora, são 42.456 pessoas curadas da Covid-19 no estado. Desse total, 9.785 foram casos graves e 32.671 casos leves.
3 de julho – O estado ultrapassa a marca de 5 mil óbitos pelo novo coronavírus. Ao todo, são 5.068 óbitos pela doença.