Magno Martins
No Nordeste arraigado de preconceitos, mitos e tabus que pareciam invioláveis, as eleições municipais deste ano abriram paradigmas também no campo da sexualidade. Em Passira, no Agreste Setentrional, a 79 km do Recife, onde a feminilidade brota desde cedo na tradição de tecer bordados, com peças que ganharam o mundo pela sua originalidade e capricho no design, a prefeita eleita Rênya Carla Medeiros da Silva, 37 anos, filiada ao PP, ganhou notabilidade não apenas por ter derrotado um típico coronel do asfalto, mas por ser assumidamente homossexual.
Na linguagem LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais – Rênya se define como lésbica. Diante da sociedade conservadora da sua terra, sem nenhum receio por ser uma pessoa pública, oficializou, há quatro anos, a união conjugal com Karla, uma conterrânea de 26 anos, que tem um filho de sete anos. Passira não é diferente de nenhum grotão machista do Nordeste, onde impera o viés preconceituoso aos que fogem do padrão em opção sexual.
Por isso mesmo, ao longo da campanha, os adversários de Rênya a agrediram no campo da afetuosidade. Os bombardeios, entretanto, produziram efeito contrário. A campanha ganhou musculatura e passou a ser uma ameaça ao fim do coronelismo no município, pela sua bela história de mulher pública. Rênya não caiu de paraquedas em Passira. Nascida em Taó, comunidade pobre da zona rural, a 13 km do centro urbano, já havia sido testada nas urnas nas eleições de 2012, eleita vereadora com 687 votos.
Continua…