Com a aproximação do período eleitoral, vereadores e novos candidatos se preparam para lidar com mudanças na disputa por vagas nas câmaras municipais, principalmente no que diz respeito ao fim das coligações proporcionais.
Na verdade, com o fim dessas coligações partidárias, uma nova vertente de fisiologia passa a vigorar. Agora, sem as coligações proporcionais, os candidatos vão migrar. Não são os partidos que vão se aliar com outros partidos, mas os seus integrantes também vão buscar uma alternativa eleitoral competitiva.
Isso tem tirado o sono dos dirigentes partidários e poderá resultar em esvaziamento de várias legendas. Os pretensos candidatos que se sentem inseguros em permanecer nos partidos em que estão filiados, devem aproveitar a “janela partidária” para trocar de legendas, ou até mesmo aguardar deliberações de suas siglas de se unirem a outras, por meio de fusões, incorporações, como já vem ocorrendo em muitas pequenas legendas.
João Alfredo
Em João Alfredo, partindo do pressuposto de que no pleito vindouro chegue-se a 19 mil votos proporcionais válidos, obter-se-á um coeficiente eleitoral de 1.461 votos para a conquista de uma das 13 cadeiras da câmara dos vereadores. Desta forma, as direções partidárias terão que fazer uma seleção dos seus mais competitivos candidatos para lançá-los, sem que eles concorram com outras candidaturas do mesmo partido.
Além do mais, existe também a “clausula de desempenho” que exige que para que o candidato consiga ser eleito, tenha no seu partido não apenas o número de votos para atingir o coeficiente eleitoral, mas individualmente o candidato tem que ter 10% do número de votos do coeficiente eleitoral. Isso também restringe a possibilidade de eleição.
A eleição deste ano será muito difícil para que os partidos consigam manter as mesmas cadeiras que possuem hoje nos legislativos municipais. Na Cidade Feliz, por exemplo, o PSD para conquistar 6 cadeiras, teria que ter 8.766 votos, ou seja, quase 50% dos votos válidos. Desta forma, os pretensos candidatos terão que se agrupar ao máximo, porque senão não lograrão êxito. Na mesma situação estão os outros partidos.
O Progressitas (PP) que hoje tem 2 vereadores, para mantê-los terá que somar no mínimo 2.922 votos. O PTB que em 2016 elegeu um vereador, dificilmente partirá para a disputa, pois não alcançaria o quociente eleitoral. Caso seja candidato à reeleição, este vereador terá que migrar para uma sigla recheada de figurões e se esforçar para ficar entre os mais votados.
É muito difícil fazer projeções de qual vai ser o cenário eleitoral, porque o eleitorado havia se acostumado com o modelo eleitoral que envolvia as coligações. Agora, o personalismo tende a se aprofundar. Por isso, os que detêm mandatos estão bastante preocupados, ou se eles estão sem partido, ou se estão em pequenas legendas agora, eles vão ter que migrar para grupos mais robustos.
O partido que lidera a situação ou lidera a oposição vai conseguir arregimentar candidatos com mais facilidade. Já os partidos menores terão muita dificuldade para completar a chapa que é até 150% do número de vagas. No caso de João Alfredo será de 20 candidatos para cada partido, sendo 14 homens e 6 mulheres.
Isso obriga os partidos a incluírem candidatas e precisarem buscar em vários segmentos o estímulo da participação feminina. Além disso, busca lideranças que tenham capacidade de atuarem como puxadores de votos para si mesmo, para atingir o coeficiente eleitoral. Por isso quem decidir sair como candidato tem que se preocupar em conseguir votos para atingir a meta, para conseguir preencher uma vaga como parlamentar.
Neste caso, a “situação” em João Alfredo está em patamar mais confortável para a futura formação de uma chapa proporcional. Já no campo da “oposição”, com 4 possíveis candidatos majoritários, constituir-se-á em sérias dificuldades para os candidatos proporcionais. No partido, quem tem mais capilaridade eleitoral (e financeira) tende a “engolir” e se “alimentar” (completar o coeficiente) dos votos dos concorrentes mais modestos.
Por isso, torna-se importante a união das oposições em João Alfredo para que se vislumbre uma vitória na chapa majoritária e a formação de uma destacável bancada de vereadores.
“Temos até o fim de março para resolvermos essa situação, pois a nossa atual vertente partidária não tem condições de eleger ao menos 3 vereadores. Não temos chapa proporcional competitiva e não vamos cometer suicídio eleitoral”, disse um vereador da oposição que não quis se identificar.
Por outro lado, um vereador da “situação” mostrou-se preocupado com uma possível chapa proporcional composta por nomes de peso, em virtude da migração de postulantes de outras legendas. “Vai sobrar muita gente com votação expressiva, pois o total de votos do partido elegerá no máximo 6 ou 7 vereadores, isso num prognóstico bastante positivo”, alertou. Desta forma, o vereador lamenta que as lideranças estejam apenas visando a eleição majoritária e atraindo mais lideranças, sem se preocuparem com a chapa proporcional.
E completou: “Quem já é vereador em João Alfredo e entra num partido com mais 7 ou 8 detentores de mandato, além de alguns novos candidatos considerados competitivos, sabe muito bem que só 7 terão condições de êxito. Neste caso, a briga será ferrenha e poderá sobrar para a chapa majoritária, pois cada candidato a vereador preocupar-se-á mais com sua vitória, ou seja, pedirá voto para si e para prefeito que o eleitor vote em quem quiser”, finalizou, sugerindo cautela dos líderes partidários, nas formações das chapas proporcionais.
Coeficiente Eleitoral e Coeficiente Partidário
O coeficiente eleitoralé calculado pela divisão entre o número de votos válidos excluídos os brancos e nulos dividido pelo número de cadeiras à disposição. Já o coeficiente partidário é a divisão dos votos obtidos pelos candidatos. E os que são dados aos seus partidos ou a coligação se estiver coligado pelo coeficiente eleitoral. Esses índices as vezes possibilitam que candidatos menos votados obtenham as cadeiras em virtudes da votação expressiva de algum candidato do seu partido ou coligação. Na eleição de 2016 foi estipulado que estes candidatos deveriam alcançar os 10 por cento do coeficiente eleitoral para poder ser eleito. Era comum a união de vários partidos na montagem da coligação a fim de facilitar que seus candidatos fossem eleitos. Na eleição de 2020, não será mais possível para a escolha dos vereadores. As coligações continuam possíveis para o cargo de prefeito que é majoritário.