Irmão de Eduardo diz que não é o Pedro Collor de Pernambuco

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Em entrevista ao blog, o advogado Antônio Campos, rompido com as forças do PSB que controlam o poder estadual, prevê que o governador Paulo Câmara não tem mais capacidade de recuperar a imagem do seu Governo, diz que sente orgulho em ser perseguido pelos aliados do passado, fala dos cenários políticos e eleitorais para 2018 e manda um recado aos que o tacham como louco: “Sou fiel à memória e a defesa da minha família Campos/Arraes e o tempo dirá que o Pedro Collor dessa história não sou eu. O Pedro Collor, na verdade, é um primo e tem outros protegidos desta senhora”, afirma, referindo-se à viúva do ex-governador e irmão Eduardo Campos, Renata Campos. O primo a que Campos se refere é o ex-presidente da Copergás, Aldo Guedes, que já teria feito delação.

O que você acha do governo Temer?

Gostaria que o governo Temer tivesse o papel que foi desempenhado por Itamar Franco após o impeachment de Fernando Collor. Itamar administrou consciente da sua interinidade, com muito zelo e ética com relação aos seus auxiliares e responsabilidade na condução da economia. Já Temer, desde o primeiro momento, se manteve refém das mesmas práticas da velha política. Infelizmente, é um governo centrado no projeto das elites, sem programas para o povo.

Continua…

O que acha da reforma trabalhista e da Previdência?

Sou favorável a uma reforma estrutural conjunta, não apenas trabalhista e previdenciária, mas também política e tributária. As reformas começaram pelos mais vulneráveis, que sempre pagam a conta. A reforma trabalhista é necessária, mas a PL 6787/16, da relatoria do deputado Rogério Marinho, que modifica mais de 100 artigos da CLT, aprovada pela Câmara dos Deputados, que está encaminhada para ser votada no Senado, carece de um maior debate e encampou basicamente a pauta dos empregadores. Além de suprimir direitos importantes dos trabalhadores, o texto nada propõe para atender a parcela de 40% sem carteira assinada, os chamados trabalhadores informais. O fim da contribuição sindical deveria ter uma regra de transição. A previdência é o maior instrumento de distribuição de renda do Brasil, maior que a Bolsa Família. Os gastos previdenciários não são o maior fator de desiquilíbrio da dívida pública, mais a forma de lidar com essa própria dívida. O Tribunal de Contas da União, através de proposição da Ministra Ana Arraes, aprovou uma auditoria da dívida pública brasileira, para ajudar a União a desarmar essa bomba relógio. O Projeto da Reforma da Previdência precisa ser mais debatido com a sociedade e a União precisa cobrar a dívida ativa da Previdência Social, que chega a 400 bilhões, especialmente os grandes devedores. Senão, a conta sobra só para o aposentado.

E a reforma política e tributária?

O nosso sistema político partidário faliu. Precisamos fazer uma reforma política já. A reforma teria duas etapas, em 2018, lista pré-ordenada, que já existe em mais de 62 países, inclusive Portugal e Espanha. Em 2022, migraríamos para o distrital misto, no modelo alemão. Sou favorável ao financiamento misto com um fundo público e o financiamento privado de pessoas físicas. O Brasil tem um manicômio fiscal, com uma carga tributária de 33% do PIB, sendo 51% sobre bens e serviços, quando nos Estados Unidos são 20%. É preciso fazer a reforma tributária por etapas. Esse ano o Brasil já bateu um novo recorde e recebeu 700 bilhões em impostos, sem oferecer uma contrapartida digna em saúde, educação e segurança.

O senhor é a favor de uma constituinte?

Sou favorável que o próximo Congresso eleito em 2018 tenha poder de uma Assembleia Nacional Constituinte como aconteceu no pleito de 1986. Será uma oportunidade para os candidatos apresentarem propostas concretas sobre temas nacionais e do eleitor cobrar de seus representantes os compromissos assumidos publicamente, para serem feitas as mudanças necessárias.

Como o senhor avalia o PSB nesse momento?

Um partido importante no jogo de xadrez da política nacional, mas que está dividido, sem unidade de ação. Ainda tenho esperança que as forças históricas, comprometidas com o ideário político do partido, sob o comando de Carlos Siqueira resistam e resgatem o seu papel histórico.

E o governo Paulo Câmara?

Paulo Câmara nunca foi da política. Por causa de uma comoção se elegeu. Sem a orientação de Eduardo Campos, mostrou que não está preparado para governar. É um governador rejeitado pela sociedade e tutelado pelo PMDB. Um falso humilde, comandado por um pequeno grupo político que tem como prática a truculência e a perseguição. Guardarei com orgulho está sendo perseguido por um dos governos mais medíocres da história de Pernambuco. Um grupo restrito onde se destaca a presença do prefeito Geraldo Júlio, que sempre ouve Renata Andrade Lima Campos. Sou fiel à memória e a defesa da minha família Campos/Arraes e o tempo dirá que o Pedro Collor dessa história não sou eu. É um primo e tem outros protegidos desta senhora.

E a questão atual do crescimento da violência?

O Pacto pela Vida foi um programa exitoso executado por Eduardo Campos. Como programa governamental o Pacto pela Vida precisava de ajustes periódicos. Paulo Câmara pouco fez para impedir a volta da violência em Pernambuco. Em várias entrevistas chegou até ao absurdo de querer negar o crescimento da criminalidade, dos assaltos a ônibus e da violência a mulher, para depois falar em desconforto. Paulo Câmara arrastou Pernambuco da condição de um estado modelo no combate a violência para ser manchete na imprensa nacional e internacional como um dos estados mais inseguros do Brasil.

O senhor é candidato a deputado, já tem partido?

A minha resistência política contra a reeleição de Dilma e o meu ingresso na vida pública me trouxe compromissos com aqueles que confiaram na nossa postura de resistência e nas nossas propostas. Pretendo disputar uma vaga na Câmara Federal. Definirei o partido até o final do segundo semestre. O cenário político nacional permanece ainda muito incerto e tem a possibilidade da reforma política.

Como vê a oposição em Pernambuco?

Pernambuco tem uma oposição que precisa melhorar o discurso. E que precisa, também, de uma agenda inovadora para o desenvolvimento do estado. Não basta apenas criticar ou denunciar. Esse é o desafio.

Como vê a Lava Jato ter citado seu irmão Eduardo?

Sou favorável a Operação Lava Jato e que todas as investigações sigam até o fim. Acho que as delações devem ser comprovadas e que deve ser dado a todos os delatados o direito de ampla defesa. Defendi e conseguimos a absolvição de Eduardo nos Precatórios, episódio muito doloroso para minha família e não tive a gratidão merecida. Acho que cabe, agora, a Renata e a João Campos, herdeiros políticos de Eduardo, o protagonismo da defesa da honra e do seu legado e não apenas delegar essa tarefa ao partido. Eduardo não está sendo suficientemente defendido.

Como avalia o cenário eleitoral de 2018?

O cenário eleitoral está em aberto. A Operação Lava Jato praticamente imobilizou a movimentação dos pré-candidatos. Contudo, as eleições de 2018 serão diferentes. Acho que não haverá essa falsa dicotomia entre Lula e os conservadores, não será por aí. Como dizia Belchior, “uma nova mudança em breve vai acontecer. E o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer.” No que diz respeito ao cenário estadual, o cenário está favorável a oposição, só depende da articulação das forças de oposição que andam muito silenciosas, com exceção de Armando. Defendo a formação de um grande arco de oposição, com uma agenda nova, do pós-Eduardo e inovadora para Pernambuco, uma eleição polarizada. O governo de Paulo Câmara está fragilizado e a polarização é melhor que múltiplas candidaturas. (Magno Martins)