Por AFP – O Irã pediu, neste domingo (14), a Israel para não reagir militarmente ao ataque sem precedentes lançado durante a noite, que apresentou como uma resposta justificada ao bombardeio que destruiu o seu consulado em Damasco.
“O caso pode ser considerado encerrado”, anunciou a missão iraniana na ONU em uma mensagem publicada três horas depois do início do primeiro ataque direto contra Israel que o Irã lançou a partir do seu território.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, alertou que quaisquer ações “imprudentes” de Israel e dos seus aliados levarão a uma “resposta mais forte” da República Islâmica.
A Guarda Revolucionária, o Exército ideológico do Irã, disparou mais de 200 drones e mísseis contra alvos militares em território israelense.
O chefe das forças armadas iranianas, general Mohammad Bagheri, comemorou que o ataque atingiu “todos os seus objetivos” e deixou fora de serviço um “centro de inteligência e uma base aérea”. Os drones iranianos não visaram nenhum centro urbano ou econômico, disse ele.
A missão iraniana na ONU explicou que a “ação militar do Irã é uma resposta à agressão do regime sionista contra a nossa sede diplomática em Damasco”.
O ataque foi realizado com base no “artigo 51 da Carta das Nações Unidas sobre autodefesa”, disse.
“Punir” Israel
Nas últimas duas semanas, as autoridades iranianas afirmaram a sua vontade de “punir” Israel após a morte de sete membros da Guarda Revolucionária, incluindo dois generais da Força Quds, o seu braço de operações exteriores, na destruição do consulado iraniano na Síria por um ataque atribuído a Israel em 1º de abril.
Israel “receberá um tapa na cara”, havia alertado o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei.
Desde a revolução de 1979, Israel tem sido o inimigo jurado da República Islâmica, que defende a sua destruição em favor de um Estado palestino.
Mas até agora, o Irã tinha se abstido de atacá-lo frontalmente, preferindo apoiar as ações de outros membros do “eixo de resistência”, incluindo o Hezbollah libanês e os rebeldes huthis do Iêmen.
Desde o início da guerra na Faixa de Gaza entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, em 7 de outubro, o Hezbollah e os rebeldes huthis dispararam quase diariamente contra Israel.
Poucas horas antes do ataque a Israel, o Irã apreendeu no Estreito de Ormuz um navio cargueiro “vinculado” a Israel com 25 tripulantes a bordo.
Os Estados Unidos condenaram este “ato de pirataria” e exigiram que o Irã libertasse imediatamente o navio.
Após o anúncio do ataque, o Irã pediu aos Estados Unidos que “fiquem de fora” do conflito com Israel.
Baghari indicou que as autoridades iranianas “enviaram uma mensagem aos Estados Unidos avisando que se cooperarem com Israel nas suas possíveis próximas ações, as suas bases não estarão mais seguras”. Washington possui várias bases militares na região.
“O próximo tapa será mais violento”, diz um mural inaugurado na noite de sábado na Praça Palestina, em Teerã, onde milhares de pessoas se reuniram após o ataque gritando “morte a Israel” e “morte aos Estados Unidos”.
O Irã “pode intensificar as suas ações se quiser, porque pode escolher entre várias opções, como o Hezbollah, distúrbios marítimos ou bombardeios contra alvos israelenses vulneráveis no exterior”, analisou Nishank Motwani, do Australian Strategic Policy Institute, em Washington.
Após o ataque, as autoridades israelenses não revelaram as suas intenções, mas não tinham previamente descartado a possibilidade de atacar em território iraniano, provavelmente visando instalações militares ou nucleares, segundo especialistas.
Por precaução, o aeroporto Teerã-Mehrabad, dedicado a voos domésticos, permaneceu fechado neste domingo até 12h00 (04h30 no horário de Brasília), segundo a agência Mehr.
Algumas companhias aéreas internacionais decidiram suspender os seus voos ou parar de voar sobre o espaço aéreo iraniano, e vários países, incluindo Rússia e França, instaram os seus cidadãos a “se absterem” de viajar para o Irã e o Oriente Médio.