Uma nova reportagem veiculada pelo site The Intercept Brasil neste domingo 21 mostra que, enquanto juiz da operação Lava Jato, Sérgio Moro fez vistas grossas ao esquema de corrupção que Flávio Bolsonaro mantinha em seu gabinete enquanto foi deputado estadual no Rio de Janeiro. O motivo? Ele temia desagradar ao pai, Jair Bolsonaro, que já tinha lhe cedido o cargo de Ministro da Justiça em seu governo.
Em chats secretos, o coordenador da operação Deltan Dallagnol já tinha concordado com a avaliação de procuradores sobre o esquema de Flávio, operado pelo assessor Fabrício Queiróz, mas mostrou preocupação sobre como Moro se colocaria diante do caso.
“Até hoje, como presumia Dallagnol, não há indícios de que Moro, que na época das conversas já havia deixado a 13ª Vara Federal de Curitiba e aceitado o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, tenha tomado qualquer medida para investigar o esquema de funcionários fantasmas que Flávio é acusado de manter e suas ligações com poderosas milícias do Rio de Janeiro”, traz a reportagem.
Além disso, Moro também não parece se preocupar com as ramificações federais do caso – como o suposto empréstimo de Queiroz para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Questionado pelo caso, alegou que não havia nada conclusivo e que o governo não interferiria no trabalho dos promotores.
Na segunda-feira 15, no entanto, o caso voltou aos noticiários quando o presidente do STF, Dias Toffoli, atendeu ao pedido de Flávio Bolsonaro e suspendeu as investigações iniciadas sem aprovação judicial envolvendo o uso dos dados do Coaf, órgão do Ministério da Economia que monitora transações financeiras para prevenir crimes de lavagem de dinheiro.
Os chats
No dia 8 de dezembro de 2018, Dallagnol postou num grupo de chat no Telegram chamado Filhos do Januario 3, composto de procuradores da Lava Jato, o link para um reportagem no UOL sobre um depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz numa conta em nome da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Dallagnol pediu a opinião dos colegas, ao que a procuradora Jerusa Viecilli, crítica da aproximação de Moro com o governo Bolsonaro, respondeu: “Falo nada … Só observo ”. Dallagnol escreveu: “É óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, digitou o procurador. “Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, escreveu. Dallagnol completou, sobre o presidente: “Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”
Em outro chat particular com o também procurador Roberson Pozzobon, Dallagnol conversam sobre o caso Queiroz e mostram preocupação com as entrevistas da imprensa que poderiam abordar a situação de Flávio Bolsonaro.
“Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas”, escreve Pozzobon. Dallagnol sugere algumas respostas ao procurador e ambos chegam à conclusão de que o silêncio é o melhor caminho.