Sergio Moro continua como o ministro mais bem avaliado do governo Jair Bolsonaro (PSL), com um patamar de apoio da população que supera o do próprio presidente.
A conclusão é da mais recente pesquisa nacional do Datafolha, feita na quinta (29) e sexta-feira (30) da semana passada. Segundo o levantamento, Moro é conhecido por 94% dos entrevistados, a taxa mais alta na Esplanada.
Dentre os que afirmam conhecê-lo, 54% avaliam sua gestão à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública como ótima ou boa. Outros 24% a consideram regular, e 20%, ruim ou péssima —2% não responderam.
Em comparação, são 29% os entrevistados pelo Datafolha que aprovam o governo Bolsonaro, 30% os que o consideram regular e 38% os que avaliam como ruim ou péssimo (2% não responderam).
O titular da Justiça mantém esse nível de aprovação em meio às constantes “frituras” por parte do presidente, a derrotas no Congresso e à divulgação de mensagens que expuseram a sua proximidade com procuradores da Lava Jato e colocaram em dúvida a sua imparcialidade como juiz federal.
A avaliação de Moro se manteve intacta desde o último Datafolha, em julho, com variações dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Naquele mês, eram 55% os que consideravam sua gestão boa ou ótima, 21% avaliavam como regular e outros 21% como ruim ou péssima (3% não responderam).
Desde julho, contudo, Moro passou por diversas crises. Na mais recente delas, viu Bolsonaro interferir na escolha de cargos da Polícia Federal, que está subordinada ao Ministério da Justiça, e minar sua autoridade.
“Está na lei que eu que indico, e não o Sergio Moro. E ponto final”, disse Bolsonaro, em 22 de agosto, indicando que poderia trocar o diretor-geral da PF. Quem ocupa o cargo é Mauricio Valeixo, escolhido por Moro, com quem trabalhou nos tempos de força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
Nesse intervalo entre as pesquisas, o ministro também foi alvo de novas reportagens baseadas nas mensagens que trocou com procuradores da Lava Jato enquanto juiz responsável pelos casos da operação.
Os arquivos, obtidos pelo site The Intercept Brasil, revelaram, entre outras coisas, que Moro interferiu em negociações de delações premiadas, o que não está previsto na lei, e omitiu uma palestra remunerada ao prestar contas de suas atividades como juiz.
Na pesquisa de julho, cerca de um mês após a publicação das primeiras reportagens (em 9 de junho), 58% reprovaram sua conduta nas conversas com procuradores da Lava Jato e disseram que suas decisões como juiz deveriam ser revistas. Ainda assim, 55% eram contra a possibilidade de ele deixar o cargo.
Na Câmara, o ministro viu pontos de seu pacote anticrime serem barrados ou alterados pelos deputados. É o caso da execução da pena após condenação em segunda instância, item considerado caro ao ex-juiz e que foi retirado do projeto. Bolsonaro, por sua vez, disse que o pacote, prioridade para Moro, não é visto com urgência pelo governo federal.
Na terça (4), em entrevista à Folha, o presidente disse que Moro não tinha “malícia” da política e que era ingênuo até chegar ao governo. Bolsonaro também afirmou que o nome de Moro não seria aprovado pelo Senado em uma eventual indicação para ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) —nomeação esta que, em maio, disse ter reservado ao ex-juiz, no que voltou atrás logo em seguida.
As alfinetadas do presidente, contudo, não foram suficientes para descolar sua imagem da de Moro. Os estratos bolsonaristas são os que apresentam os mais altos índices de apoio ao ministro.
Entre os que conhecem Moro, consideram sua gestão como ótima ou boa 80% dos que votaram em Bolsonaro, 88% dos que aprovam o governo e 89% dos que dizem sempre confiar no que diz o presidente. Entre os simpatizantes do PSL, partido de Bolsonaro, 97% apoiam o ex-juiz.
Outros segmentos que se sobressaem pela avaliação positiva do ministro são os que se declaram brancos (60% de ótimo ou bom), os evangélicos (61%) e os moradores da região Sul (64%). Bolsonaro também se destaca nesses estratos, mas com aprovação bem mais modesta: 36%, 37% e 37%, respectivamente.
Moro tem apoio mais discreto entre estudantes (38% de avaliação positiva), moradores do Nordeste (40%) e desempregados (45%). Já Bolsonaro tem alguns de seus piores índices de desempenho nesses mesmos segmentos, acumulando 19%, 17% e 18% de ótimo ou bom, respectivamente.O Datafolha também pediu que os entrevistados avaliassem a atuação de outros quatro ministros: Paulo Guedes (Economia), Tarcísio Gomes (Infraestrutura), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Abraham Weintraub (Educação).
Desses, Guedes é mais conhecido (81% dizem saber quem ele é) e Weintraub, o menos (31% afirmam conhecê-lo). O titular do MEC e Salles são os mais mal avaliados: entre os que dizem conhecê-los, 32% e 33%, respectivamente, consideram sua atuação ruim ou péssima.
Figura central da crise de queimadas na Amazônia, o ministro do Meio Ambiente foi o único que viu sua reprovação crescer —alta de 12 pontos percentuais em relação a julho, quando somava 21% de ruim e péssimo.
Na outra ponta, Guedes tem a segunda melhor avaliação, perdendo apenas para Moro. O titular da Economia soma 38% de ótimo e bom entre os que dizem conhecê-lo.
Outro ponto questionado pelo Datafolha se refere ao que os entrevistados consideram o principal problema do país quando levadas em conta as áreas de atuação do governo federal. A saúde foi citada por 18%, seguida por educação e desemprego, com 15% cada um.
Segurança pública, sob responsabilidade de Moro, foi mencionada por 11%. No levantamento de julho, as questões relacionadas à violência foram apontadas como o maior problema brasileiro, com 19% das menções.
O Datafolha ouviu 2.878 pessoas em 175 municípios de todas as regiões do país. O nível de confiança é de 95%.